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Às margens do Rio São Francisco

Cheguei à Januária de ônibus. A viagem era parte de um projeto mais longo que eu vinha fotografando – uma das vítimas da explosão do Osasco Plaza Shopping havia se mudado para lá e eu achava que umas fotos de como a vida continuava longe de Osasco poderiam valer a pena.

Caminhei da rodoviária para o centrinho da cidade, já perto da margem do rio, achei um hotel bem simples. A diária era R$6 ou R$7 enquanto a coxinha na parada do ônibus era R$3. Tomei um banho, lavei a roupa da viagem, pendurei perto da janela, tirei um cochilo naquela tarde, acordei a roupa estava seca, não era época de chuva.

Sai e tomei uns sorvetes. Fui atrás do José. O Sol queimando. Setembro de 1999.

Descobri uma cidade interessante, conheci umas pessoas inesperadas, ouvi histórias, tomei mais sorvete. Sempre levava duas Nikons. Com uma fotografei a história que eu estava procurando. Com a segunda, fotografei as coisas que eu descobri em filme slide expirado. Anos mais tarde transformei tudo em preto e branco para me ver livre do crossover.

Na ida e na volta fiquei encantado com os buritizais no meio do cerrado.

Lençóis Maranhenses

Na estrada para Barreirinhas. Um poço de água escura, quatro meninos brincam. Nus. As casas têm massa corrida e tinta só na face que dá para a estrada. O chão virando areia ao longo da estrada. Poucas flores, folhas ainda verdes da chuva que passou, mas há nuvens. Ao longo do dia elas aumentam, depois somem. Casas de pau a pique. Alagados. Buritizais. Cavalinhos. Uma senhora de blusa azul lava uma roupa amarela numa dessas lagoinhas. O fio de eletricidade beira a estrada. Nas casas cadeiras de plástico de frente para televisores. Uma cerca. Uma paineira ainda com folhas e sem frutos. Uma parabólica. O verde e a areia. O povoado de Jaburú (sic). Mandioca brava. Guaraná Jesus. Caninha do Engenho. Quebra-molas. A cerca da casa é o varal. As cores não combinam. O Sol dá brilho a tudo. A ondulação da estrada obriga a ir pela contramão. Vaquinha magrinhas. Cactus. Um riozinho e mais roupa sendo lavada. Dois cavalos. Pequenas flores vermelhas no meio de arbustos. Algodão aqui e ali (afinal um dia boa parte do Maranhão foi plantada com ele).

chaveiro

Mais adiante chegamos a Caburé. A voadeira nos leva até a ponta da areia (onde o Rio Preguiças encontra o Oceano Atlântico). Desço do barco, meu pé encontra algo duro. Um peixe madeira. Um chaveiro de um quarto de pousada. Ninguém sabia dizer qual pousada. Ficou na minha bolsa e voltou comigo.