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90 segundos de lampejos ininterruptos

Agora em Maio vai se fechar um ciclo de dois anos trabalhando com fotografia de e-commerce na Farfetch. O fim dessa história vem através de um despedimento colectivo, parte de uma história bizarra de como a empresa foi conduzida e vendida nos últimos 6 meses, mas isso você pode ler aqui ou aqui.

A minha história aqui começou em 2 de maio de 2022. Meu primeiro dia aqui também foi o dia em que os funcionários foram autorizados a começar a trabalhar sem máscaras, ou seja, após a parte grave da pandemia. O prédio ainda estava meio vazio, muita gente ainda trabalhava de casa, mas aos poucos foi voltando à vida. Pelo sistema de gerenciamento de assets digitais posso ver que estou prestes a completar 90.000 imagens salvas e ainda não completei os dois anos (se o Profoto D2 Industrial daqui tem um flash de 1ms, então ele ficou aceso por 1’30” graças a mim, brutal!). É um trabalho interessantíssimo, um contacto direto com milhares de artigos de vestuário e diversos tipos de acessórios e objetos. Fiz um pequeno portfólio desses tempos nesse link aqui. Aprendi muito sobre moda, tecidos, reflexos, etc.

Produzir uma quantidade tão grande de imagens gera uma série de aprendizados e uma percepção do processo muito afinada. O olho passa a estar alerta para variações de luz da ordem de 1/3 de ponto e estúdios que são calibrados para serem iguais começam a se revelar diferentes ao longo do tempo, tudo nos pequenos detalhes.

Para dezenas de fotógrafos produzirem essa quantidade de imagens diariamente, a empresa criou e atualizou ao longo do tempo uma série de procedimentos e tutoriais. Ou seja, é um trabalho a ser executado dentro de regras muito rígidas, num estúdio imutável, onde tudo tenta ser altamente reprodutível. É um desafio interessantíssimo tentar ser criativo nesse ambiente, achar pequenos elementos que podem ser flexibilizados. E ainda ao mesmo tempo, repensar a lógica da coisa e propor soluções diferentes para simplificar a estrutura.

E em vários momentos, a quantidade de trabalho é tão grande que mais vale colocar os fones, deixar a mente se inundar de música e pensamentos aleatórios e seguir mecanicamente e meticulosamente as regras. O que ajuda? Os sets do Cercle em alto volume, Radiohead, Jan Blomquvst, essas coisas que movem o corpo. E depois HVOB, Still Corners e London Grammar para acalmar.

Mas às vezes o que sobrava era o tempo, principalmente na baixa temporada.

Educar o corpo ao ritmo de fotografar 115 artigos diferentes por cada turno é também um desafio. Cheguei aqui logo depois de 2 anos e meio trabalhando como suporte técnico. Passava o dia inteiro sentado à frente de um computador. Passar 8 horas de pé por dia foi doloroso nos primeiros meses. Ainda hoje os dedos sofrem se os botôes das camisas ainda estão muito justos e/ou se são muitas camisas num dia só. E não vamos falar nem de idade, nem que quilometragem…

Foto: Inês Ferreira

Quando tudo que eu podia fazer era me esticar no chão do estúdio, tentar relaxar as costas, podia sempre contar com o olhar atento do departamento de QC.

Foi graças ao acesso ilimitado ao Udemy (que a Farfetch dá a seus empregados) que foi possível finalmente mergulhar no mundo do software e descobrir tanta coisa interessante e rever coisas do passado (HTML e CSS). Chega a sair fumaça da cabeça em alguns momentos, aprendendo Python, Flutter, Ethical Hacking e SQL em cursos simultâneos, loucuras que a gente escolhe para si mesmo. Acabei deixando de lado as coisas do meu passado (Processing, etc), mas ainda pretendo retomar o Matlab.

Dai os momentos de baixa temporada acabaram ganhando outro propósito. Cursos atrás de cursos. Há quem diga que achei mais um pedaço do meu ikigai.

Quando veio a notícia do despedimento colectivo, uma colega muito experiente se prontificou a ajudar outros colegas a reescrever seus currículos. A Isabel me ajudou com o meu e ficou assim:

É isso que tenho para mostrar hoje, se você não sabia o que o cara por trás desse blog fazia para ganhar o pão, agora sabe das partes mais glamourosas, né? ;-)

E vamos em busca de novos desafios (é assim que fala?).

Recortes antigos • Fotojornalismo

Desencavei um monte de scans de recortes antigos. Esses recortes iam para o lixo em 2016. Minha mãe gentilmente se ofereceu para escanear todos. E isso ficou guardado até recentemente. Tive que encontrar umas informações sobre as fotos que eu fiz sobre a história da explosão do Osasco Plaza Shopping em 1996. Acabei gastando um tempo vasculhando aquilo tudo. Acho que fiquei surpreso de ver as coisas que eu fazia há quase 30 anos.

Entre 1995 e 1997 estive como freelancer para o jornal O Estado de São Paulo e para o Jornal da Tarde. Coisas do dia a dia da cidade, nada muito sério ou grave, ou seja features, no hard news. Operação Magia Negra diz a legenda da imagem, esse foi um dia interessante: circulei com uma patrulha da polícia pelos cemitérios da cidade a procura de pessoas praticando rituais religiosos não autorizados.

Usava mais a 50mm e as teleobjectivas, raramente apelava para a grande angular.

Ainda em 1997 passei a trabalhar para o jornal A Folha de São Paulo. Tentei incorporar uma linguagem um pouco mais dinâmica, comecei a usar mais a 24mm e me aproximar de tudo. Também comecei a ver mais imagens impressas em cores. O ano era 1998 e tinha gente a descobrir a internet. E, aparentemente, eu já estava lá para fotografar (em filme). Acredito que usei a 24mm e virei a câmara na diagonal because all cool kids were doing it. E como não notar aquele Brad Pitt ali na parede da ginasta, ele ajuda a datar essa imagem.

Sobre a 24mm, no início usava a da Nikon, depois achei uma Tokina 24-40mm/2.8 que andou comigo bastante. Ainda tenho saudades daquela lente, era bem prática como lente única. E foi com ela que eu fiz a foto a seguir.

Um dia em especial estava contratado para trabalhar como assistente de uma fotógrafa de estúdio. Quando chego ao estúdio, descubro que ela faria ali a foto oficial da campanha Lula/Brizola. Negociei com o assessor para fazer um making of em exclusivo e já liguei para o jornal para negociar a pauta (nessa época eu era freelancer avulso). Minha primeira capa pela Folha.

O departamento de fotografia da Folha de São Paulo tinha naquela época uma estrutura de trabalho mais horizontal. Dentro disso duas coisas eram importantes: um procedimento claro e objetivo de como submeter pautas novas pelos próprios fotógrafos (em geral os fotógrafos cumprem as pautas ditadas pela redação, mas na rua algo pode saltar aos olhos e nós tínhamos como sugerir ou submeter isso facilmente) e uma pesquisa diária com leitores que chegava ao departamento contendo informações de como os leitores tinham percebido as fotografias do jornal do dia anterior.

Chegando de volta de uma pauta, numa tarde, vi essa cena num posto de gasolina abandonado ali na Vila Buarque. Conversei com aquele homem, pedi sua autorização para fotografar, colhi uns dados, anotei uma frase dele. No dia seguinte essa imagem me rendeu número 1 em recall (sem o jornal na mão, era a fotografia que mais leitores se lembravam de ter visto).

Depois de alguns anos fotografando essas pautas em jornal, a evolução natural era procurar as revistas. Era a possibilidades de ganhar um pouquinho mais e ter uma pouquinho mais de tempo livre.

A Mamiya da Petra Costa e os fotolivros da Susana Paiva

Essa quarta vou publicar mais uma entrevista na série Fotografia Portuguesa, com a fotógrafa Susana Paiva que vive em Lisboa. Ela cuida do Photobook Club de Lisboa e lá pelas tantas ela fala de como os fotolivros agradam aos fotógrafos que os produzem, mas nem tanto ao público que o compraria.

Venho pensando nessa relação da fotografia e do vídeo na minha vida. Sim, por conta dessas entrevistas e do que elas podem comunicar, do seu alcance.

Para extrapolar, pensei também que Democracia da Vertigem foi indicado ao Oscar de melhor documentário e os veículos que noticiaram isso usaram a foto de perfil da Petra Costa em que ela posa com uma Mamiya RB67 em Brasília. Tenho certeza que ela deve ter feito umas fotos bacanas de Brasília, mas sem dúvida o alcance do seu trabalho em vídeo na mesma cidade foi muito maior. Consigo imaginar ela voltando a São Paulo e levando os filmes no Gibo para ele revelar e fazer contato. Será que essas imagens impressas poderiam contar para tanta gente que o que aconteceu no Brasil foi golpe?

O tempo das redes sociais

Bom, queria continuar o post anterior sobre o tempo dos processos e falar de um outro processo que foi juntar os expositores que fizeram a FRoFA.

Desde o primeiro dia trabalhando nas coisas do Celso, 13 de março de 2017, até dezembro daquele ano, eu construi relacionamentos nas redes sociais e foi sobre isso que a feira se apoiou para existir. A primeira FRoFA também foi algo construído ao longo do tempo então.

Foi um período marcado por vários momentos de pesquisa e testes lutando contra os algoritmos e coisas do gênero e é por isso que eu olho para essa experiência de organizar a feira como um aprendizado sobre o digital, antes de mais nada.

A partir do momento que as portas se abriram e os primeiros vendedores montaram suas mesas, aquilo virou uma ação entre amigos e uma outra história…

Bixiga • explorando

Outro dia fui à feirinha do Bixiga com toda a família e enquanto eu explorava um objeto numa barraquinha fui fotografado pela minha mãe. O objeto em si era uma torre de 3 objetivas.

No Bixiga

Acabei comprando o objeto e fiz um post no fórum MFLenses tentando descobrir exatamente o que comprei. Parece que são lentes de um leitor de microfichas. Segue o link do post.