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Às margens do Rio São Francisco

Cheguei à Januária de ônibus. A viagem era parte de um projeto mais longo que eu vinha fotografando – uma das vítimas da explosão do Osasco Plaza Shopping havia se mudado para lá e eu achava que umas fotos de como a vida continuava longe de Osasco poderiam valer a pena.

Caminhei da rodoviária para o centrinho da cidade, já perto da margem do rio, achei um hotel bem simples. A diária era R$6 ou R$7 enquanto a coxinha na parada do ônibus era R$3. Tomei um banho, lavei a roupa da viagem, pendurei perto da janela, tirei um cochilo naquela tarde, acordei a roupa estava seca, não era época de chuva.

Sai e tomei uns sorvetes. Fui atrás do José. O Sol queimando. Setembro de 1999.

Descobri uma cidade interessante, conheci umas pessoas inesperadas, ouvi histórias, tomei mais sorvete. Sempre levava duas Nikons. Com uma fotografei a história que eu estava procurando. Com a segunda, fotografei as coisas que eu descobri em filme slide expirado. Anos mais tarde transformei tudo em preto e branco para me ver livre do crossover.

Na ida e na volta fiquei encantado com os buritizais no meio do cerrado.

Scanner com DSLR, grão

Uns dias atrás eu mostrei a lente ajambrada para fazer reproduções de negativos. Recentemente fotografei com uma rolinho bem vencido de TMax 3200p. Se o 400TX novo do post passado ficou daquele jeito com raio-x, imagine como ficou o negativo do 3200p que teve a mesma procedência. Bom, depois de autolevels e inversão, a reprodução ficou assim. Granuladinho.

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Velatura em filme no aeroporto

Recentemente fotografei com um filme Tri-X 400 (modelo novo, código 400TX) que me foi trazido de presente lá de Houston, TX. O filme veio de avião para o Brasil, ao contrário dos que são importados normalmente. Ontem revelei esse 400TX junto com outros 5 que comprei aqui no Brasil, quando o Komatsu ainda os vendia. Surpresa: a base do filme ficou bem diferente.

Na foto esse filme é o da direita, os outros são os adquiridos no Brasil, a borda mais escura é claramente visível. O lote não era muito diferente e ambos venceriam em 2011. Minha suspeita é o raio-X que é aplicado às bagagens que são despachadas.

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Custo por foto, antes e agora

A história de hoje começou em 1993. Em janeiro desse ano meu pai me deu uma Nikon FM2. Tenho essa câmara até hoje. Ela funciona até hoje. Em 1999 ela teve um pequeno problema com a alavanca de rebobinar o filme, consegui a peça e troquei eu mesmo, comprei pelo correio de uma loja em Chicago. O preço do conserto na autorizada aqui no Brasil era proibitivo. Cheguei a comprar um livro xerocado, manual de reparos da fábrica para a FM2, mas ele nunca mais foi necessário. Aqui, a única página que eu cheguei a usar até hoje:

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A peça 561 quebrava bastante e foi bem fácil de conseguir. Quebrava porque a câmara batia em algo, veja bem.

O tempo passou, comprei uma segunda FM2, depois uma Nikon 8008s, que também me acompanhou durante muito anos. Juntas as três câmaras fizeram todas minhas imagens nos anos 90. Sem sustos.

A FM2 custava 479 dólares e a 8008s custava 589 dólares, lá na B&H (vou usar o catálogo da B&H como fonte de valores nesse post, para evitar diferenças em função de impostos, taxas de revenda, margem de importador). Como a FM2 ainda está comigo depois de 16 anos, ela custou 30 dólares/ano (480 dividido por 16).

Mas esse paradigma acabou, se foi, não volta mais, já era, nunca mais.

Em 2003 comprei minha primeira digital séria, uma Canon 10D, foi difícil trocar para Canon, mas na época a Nikon D100 deixava muito a desejar, na qualidade da imagem, no lento processamento dos RAWs. Junto com a 10D adquiri um cartão de 256Mb.

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E foram muito cartões, antes e depois de 2003. Cartões CompactFlash sempre. Depois vieram os de 4Gb e 8Gb… Que custaram mais barato que esse de 2Mb ai em cima.

A 10D custava 1500 dólares na B&H, ainda funciona, são 6 anos comigo, por enquanto 250 dólares/ano (1500 dividido por 6). A 10D precisou de duas limpezas de CCD durante esses 6 anos, limpezas que eu mesmo fiz.

Quando a 10D fez 5 anos, alarmado pelas notícias ao meu redor de que essas câmaras não durariam mais que algumas mil fotos, depois que o grip da 10D empacotou e cansado da demora que é esvaziar o buffer depois de travar após 9 fotos em RAW, adquiri uma Canon 40D.

A 40D custava 1000 dólares na B&H, está há 1 ano comigo, por enquanto 1000 dólares/ano (1000 dividido por 1). E está hospedada na autorizada aqui em São Paulo, o Namba. O obturador morreu, segue um detalhe do orçamento que recebi deles:

Picture 1

O orçamento do Namba acusa o número de imagens feitas com a câmara: 49493. Fui atrás da nota fiscal, a câmara tem 1 ano, 1 mês e 10 dias comigo. ou seja, não há mais garantia. No DPreview a durabilidade estimada do obturador da 40D é de 100.000:

Picture 2

Mal chegou à metade. Coisas da vida. Ou melhor, eis um novo paradigma. Serve para reencontrar bons amigos nas visitas cada vez mais frequentes à autorizada. Quem tem uma lente Canon com IS também vai sofrer com isso o conserto é mais caro que o do meu obturador. Obsolescência planejada na Wikipedia, vale a pena conferir o subtítulo Fair Trade. Um outro texto a respeito. Idéias.

Isso tudo me colocou em busca de uma substituta para minha 40D, caso o conserto dure pouco, preciso ter um backup adequado. Comecei pelo próprio DPreview lendo sobre a 50D. Fui atrás de mais informações sobre o sRAW1 da 50D, sobre o controle de ruído nele, etc e tal.

Achei esse post de Roland Lim, muito interessante. Mas não foi suficiente. Acabei indo parar num site muito curioso chamado Canon Rumors. Lá já há muita falação sobre o que será a “60D”. De tudo que li, captei uma coisa bem simples, todos aquele cartões Compact Flash nos quais investi tanto dinheiro serão completamente inúteis, tudo aponta para os cartões SD.

Dentro desse site encontrei um página onde é mantida uma tabela de preços e estimativas de substituição de modelos, vale a pena consultar antes de comprar.

Retomando a idéia dos valores anuais e etc, pensei em uma comparação, escolhi uma câmara popular entre os profissionais, a 5D Mark II, e um tipo de trabalho também popular, a fotografia de casamento, pesquisando sites fica claro que uma 5D Mark II pode ser adquirida por um fotógrafo norte-americano em uma loja local com metade do que ele ganha fotografando um casamento grande. Aqui no Brasil a situação é outra, um bom fotógrafo vai precisar juntar todo o faturamento obtido com 2 a 4 casamentos grandes para ir ao centro da cidade deixar 10mil reais e adquirir a mesma câmara.

Bom, o digital não barateou em nada a fotografia. Os impostos de importação não ajudam em nada a nossa situação, a desunião dos profissionais não ajuda. E a concorrência por preço os coloca em uma desvantagem terrível em relação à aquisição de equipamento fotográfico.

Minha intenção não é entrar tanto no mérito da fotografia profissional, mas de fato, essas são as pessoas que mais sofrem com esse novo paradigma. E ao mesmo tempo essa é a classe que poderia lutar contra essa situação de importação e etc, facilitando a aquisição de equipamentos aqui em Terra Brasilis.

Já a obsolescência planejada é uma outra história, de terror. Bens mais duráveis ficarão mais tempo fora da lata do lixo, de diga-se de passagem não é um buraco sem fundo. Forçar esse ciclo de consumo, anual, é muito barra pesada por parte da indústria (Flusser tinha razão). Trocar de equipamento em busca de vantagens (qualidade, resolução, etc) é uma coisa, ser forçado porque o equipamento é mal feito, ou feito para quebrar, é outra. E assim, se eu for forçado a adquirir uma outra câmara, provavelmente serei forçado a adquirir outro computador, e por ai vai…