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Inkjet com tintas e suportes reaproveitados

Esse texto originalmente publicado em: https://efecetera.com/tutorial/impressao_inkjet_com_tintas_reaproveitadas/ , mas não se encontra mais disponível lá.

Desde minhas experiências com as tintas a base de carbono que eu imagino que seria possível fazer algo parecido com tintas coloridas também. As tintas a base de carbono, como expliquei naquela série de artigos, tem a grande vantagem de ajudarem a desentupir canais já aparentemente comprometidos e de não necessitar de todos os canais/cores, ou seja, podem ser usadas com impressoras que de fato tem canais por onde não passa mais tinta.

Minha curiosidade dependia então da impressora certa aparecer, nas condições ideais. Em 2020 ganhei uma impressora. É uma Epson R3000 que seria descartada e que tinha alguns cartuchos ainda com tinta e alguns vazios. Ao tentar ligar a impressora, ela imediatamente reclamava do cartucho PK vazio e parava ali.

Me pus a pensar em como comprovar se ela ainda estaria apta a funcionar, sem incorrer em gastos. Meu orçamento era bem pequeno, teria que completar com a minha paciência.

Comparei preços dos cartuchos que faltavam com kits de cartuchos recarregáveis vindos da China, considerei as etapas seguintes. Acabei decidindo pedir um kit CISS vindo da China. Esse kit permite ter um tanque externo que o usuário pode completar facilmente com a tinta escolhida.

Primeiros testes

O kit chegou alguns meses depois, tempo que usei para fazer algumas limpezas com líquido de limpar vidros e papel toalha, um clássico que se pode aprender no Youtube. Abri o pacote vindo da China enquanto fazia uma mistura de glicerina, água destilada e Photo-Flo para colocar em todos os tanques e instalei o kit na impressora. Essa mistura é a mesma usada para diluir o carbono e para a limpeza das cabeças, era o líquido mais barato que eu poderia usar sem comprometer a impressora. Finalmente a impressora conseguiu ligar e completar toda a sua inicialização, reconheceu os cartuchos chineses sem problema. A inicialização foi bem longa, presumo que a impressora fez uma limpeza de cabeça em respeito ao tempo que ficou desligada.

Fiz um teste dos nozzles para saber que problemas iria encontrar. Algumas tintas estavam totalmente bloqueadas, mas ainda não sabia qual a extensão dos problemas. Coloquei papel comum na impressora e imprimi algumas fotos coloridas para fazer todas as tintas entrarem em movimento e ver se havia uma melhora nos canais. A caixa de papelão onde a impressora tinha vindo estava ligeiramente úmida e isso me encheu de esperanças.

Um novo teste e alguns canais mostravam uma ligeira melhora. Não gosto de usar a função de limpeza da cabeça, tentar fazer mais tinta fluir pela cabeça pode ser pior em alguns casos. Fora que minha experiência com a Epson 4900 foi terrível, uma limpeza de cabeça de fato queimou uma cabeça inteira, mas isso era um problema comum às cabeças das impressoras X900. Resolvi fazer apenas uma limpeza e comparar testes. Fazer limpezas seguidas é totalmente proibido, pode superaquecer a cabeça de qualquer impressora e isso não é bom. No entanto, saber se há melhora ou piora com a limpeza dá uma boa indicação das condições da tinta que está dentro das mangueiras da impressora. Se a tinta estiver fresca, tudo melhora, se a tinta estiver coagulando, tudo entope mais.

O teste após a limpeza foi promissor, resolvi imprimir mais fotos em papel comum e aos poucos as linhas claras que marcavam as fotos foram sumindo. Com esse movimento de tinta, algum líquido de limpeza foi entrando pelas mangueiras e eu contava com isso para diluir um pouco a tinta velha presente ali. Deixei a impressora descansar uns dias, não queria que tanto líquido de limpeza entrasse pelas mangueiras adentro. Comecei a procurar algum tipo de tinta que eu pudesse usar.

As tintas

A R3000 precisa 9 cartuchos de tinta: cyan, light cyan, magenta, light magenta, yellow, photo back, matte black, light black e light light black. Queria encontrar tintas cyan, magenta, yellow e black que eu pudesse diluir como fiz com o carbono e criar o jogo completo de 9 tintas para a R3000. Diluir tintas para inkjet não é fácil, densidade e peso específico tem uma importância enorme, como eu haveria de descobrir um pouco mais tarde.

Vasculhei eBay e OLX atrás de cartuchos meio cheios, cartuchos antigos, esse tipo de coisa. Acabei encontrando ajuda num estúdio de impressão local, consegui cartuchos parciais de cyan, magenta e photo black vencidos há uns 10/12 anos. Pelo AliExpress fui atrás de tinta pigmentada e achei um frasco de yellow que levou mais uns meses para chegar aqui. Um pouco mais de paciência, mas estava feliz com o fato de que poderia mesmo testar tudo isso com tinta pigmentada ao invés de ter que aceitar a opção de usar corantes.

Então em 31 de dezembro de 2020, dia de folga do trabalho, enchi os tanques do sistema CISS com essas tintas e minhas diluições, não muito cuidadosas, delas.

Parecia um pequeno sucesso, a impressora até teve outra inicialização longa e puxou bastante tinta para suas mangueiras de todos os tanques. Depois de imprimir algumas cópias, percebi que um dos tanques estava quase vazio. Eu tinha perfurado o tanque com a agulha da seringa por um descuido. Algo como uns 60ml de tinta escorreram para dentro da impressora e sumiram, provavelmente aquela área é canalizada para o tanque de manutenção. Foi um susto, mas não foi nada muito grave, o trajeto do papel permanecia limpo. Fiz algumas mudanças de chips entre tanques e devolvi um dos cartuchos originais da impressora, assim pude retirar o tanque perfurado e depois continuar a imprimir.

Um dia depois percebi que a tinta diluída dentro das mangueiras estava se separando, tinta e diluente não estavam mais misturados. Nos tanques havia decantação, agitei os tanques e voltou tudo a ficar misturado, mas durou mais um dia apenas. Resolvi desconectar as mangueiras dos tanques que ficam dentro da impressora e assim trabalhar com menos tinta e tentar mantê-la misturada enquanto eu descobria o que tinha feito de errado.

O problema era maior no light light black e no light magenta. Light cyan estava ok, light black estava decantado, mas não tanto.

Minha primeira idéia era aumentar a quantidade de glicerina na mistura e assim fazer o diluente mais denso, mas resolvi tentar levar adiante como estava e experimentar mais um pouco. Suponho que lembrar de agitar os tanque antes de ligar a impressora ajudaria a tornar a situação não tão grave. Na Epson R3000 os tanques são estacionários e precisariam ser agitados. O resto do sistema (cabeça, dampers, mangueiras) estão sempre em movimento com a impressora ligada e gosto de acreditar que isso ajuda a manter a tinta misturada por mais tempo.

Experimentos iniciais

Durante os primeiros testes, quando vazou a tinta para dentro da impressora, eu estava experimentando com um papel brilhante desses que são vendidos em grandes lojas de eletrônicos, nada muito elaborado, um papel para impressão de fotos com inkjets. Por conta do vazamento e dos problemas da impressora, a tinta preta que estava disponível era a matte (MK). Essa não é a tinta indicada para esse tipo de papel. Se a MK for usada com papel brilhante, o brilho desaparece onde a imagem fica preta. Sem o brilho nas áreas mais escuras, a imagem ganha uma textura diferente que não chega a parecer um papel matte, mas que acompanha a forma das áreas pretas. Observando a imagem por um ângulo inclinado alguém pode até imaginar que é um trabalho obtido com a sobreposição de técnicas diferentes de gravura ou serigrafia. Não é tão incômodo quando um problema de bronzing, até porque parece bem mais intencional.

Imagens

Dentre os trabalhos que eu nunca tinha imprimido, mas que tinha sido finalizado digitalmente, estava um grupo de imagens da festa de aniversário de Brasília, capital brasileira, de quando ela completou 50 anos em 2010. Desde o caos da quantidade de gente que chegou para a festa, das ruas fechadas em antecipação até a sujeira que ficou nas ruas no dia seguinte.

Esse grupo de imagens foi capturado em filme 35mm. Eram diversos tipos de filme vencido, cromo e negativo, revelei tudo no meu C-41 caseiro e depois escaneei os negativos escolhidos usando um Pakon F-135. O resultado foram imagens com saturação desigual entre os tons, um grão exagerado, uma curva íngreme com altas-luzes quase bloqueadas. Imaginei esse trabalho em impressões pequenas, algo como 10cm no lado maior, para devolver um pouco de delicadeza às imagens. Queria um papel com alguma textura para combinar com as questões técnicas que essas imagens traziam desde a escolha do filme.

Suportes alternativos

Em plena época de isolamento, cheguei a procurar um papel adequado nas lojas que ainda estavam abertas aqui na cidade, mas não tive sucesso. Um dia, durante o café da manhã, estava sentado de frente para a caixa de Chocodays, quando percebi a textura da parte interna da caixa. Examinei com mais cuidado, apertei a caixa para sentir a rigidez do cartão, passei o dedo pelo interior de uma das abas para sentir a textura. Parecia interessante.

Se por um instante tive dúvida se esse suporte seria aceitável, imediatamente pensei em alguns trabalhos do Basquiat e com certeza nas caixas de pizza de Aldemir Martins.

O cartão da caixa de cereais era um pouco acinzentado, vasculhei a casa em busca de outra caixa parecida, acabei encontrando uma pastinha que tinha sido usada pela imobiliária para entregar alguns documentos. O material era encorpado como o da caixa de cereais, muito promissor. 

Resolvi experimentar ambos. Usei estilete e placa de corte, refilei os materiais para criar folhas retangulares. Da pasta tirei duas folhas padrão A4, da caixa de Chocodays tirei duas folhas 19x27cm.

Estamos numa época do ano muito úmida aqui e nenhum dos dois materiais dava indícios de amolecimento, logo presumi que ambos deveriam ter algum tipo de encolagem no verso para impedir a absorção de umidade. Imaginei que isso poderia me ajudar a obter pretos mais profundos do que aqueles obtidos com papel comum já que a tinta se manteria nas camadas mais superficiais desse suporte.

Tentei de várias maneiras seguir o manual e carregar esses papéis mais grossos pela frente da impressora como recomenda o manual, mas não fui bem sucedido.

Acabei colocando uma folha na bandeja traseira como se faz com papel normal e soltei uma impressão usando o Lightroom para compor 6 imagens dentro da folha A4, cada uma com 8cm no lado maior. A impressora não teve qualquer problema com a espessura e gramatura do suporte vindo da bandeja traseira.

A primeira cópia saiu claramente úmida, mostrando alguns excessos de tinta ainda na superfície e com uma resolução muito baixa, algumas áreas borradas. O contraste estava ótimo, bem melhor do que eu esperava. A encolagem de fato existe e é tão tenaz que retarda a absorção da tinta pela camada mais superficial do cartão. Isso por sua vez faz com que a tinta forme pequenas poças e se misture, isso é péssimo para a resolução dos detalhes da imagem.

Além da cópia estar úmida, ela tinha também muitas marcas transversais deixadas pela passagem da cabeça de impressão. A cabeça estava passando muito próxima ao papel e deixando riscos de tinta.

Já era possível ver a interação da imagem com a leve textura do papel, parecia cada vez mais promissor.

Correções através do software

A depender do driver usado pelo computador para gerir a impressora, existe uma série de controles possíveis que alteram a formação da imagem produzida em inkjet. O controle mais comum é a qualidade da impressão através do número de dpis, ou seja, quantos pontos de tinta a impressora vai criar no papel. Alguns outros controles menos comuns incluem: se a cabeça imprime só na ida (mais preciso) ou na ida e na volta (mais rápido) quando passa de um lado para outro da impressora, a altura da qual a cabeça irá lançar os jatos de tinta, o tempo de espera/secagem antes de cada passagem.

Em geral eu deixo desabilitado o modo de impressão rápida, logo, a impressora só imprime na passagem de ida, retorna a cabeça sem imprimir na volta e se prepara para a próxima passagem. Não saberia fazer uma comparação sobre os dois modos.

O segundo controle que eu menciono, foi o que eu encontrei nesse driver da R3000 para dizer a impressora que estava usando um papel mais espesso. Informei que o papel tinha 0.6mm ao invés de 0.1mm e os risco de contato da cabeça com o papel reduziram sensivelmente.

Por fim, o tempo de espera antes da próxima passagem é um controle que é comum das impressoras mais avançadas. Serve justamente para casos de papéis que não são preparados para a impressão inkjet e que absorvem a tinta de maneira mais lenta. Aumentei o tempo de espera para o máximo: 5 segundos. A impressão da folha A4 levou uns 15 minutos a mais, mas a diferença na cópia foi melhor que a esperada. A impressão ganhou muitos detalhes e não restou nenhuma marca de excesso de tinta. Cada passada teve tempo de secar antes da próxima, assim a sobreposição de diferentes tintas correu bem.

Conclusão

Aos poucos tenho direcionado minhas pesquisas no intuito de obter nas impressões inkjet o mesmo tipo de controle que tinha dentro do laboratório fotográfico químico. Simultaneamente, trabalho para evitar depender de equipamentos e insumos muito caros e manter a permanência das impressões. Espero que as idéias expostas aqui sirvam de inspiração para experiências similares. Vou continuar as experimentações por aqui e assim que tiver mais novidades compartilho com vocês.

Tinta de carbono feita em casa

Originalmente publicados no Efecetera: https://efecetera.com/tutorial/jato-de-tinta-de-carbono-parte-2/ , mas não mais disponíveis por lá. Condensei aqui os três textos de lá.

O laboratório preto-e-branco, mesmo depois desses últimos anos, ainda é um meio relativamente barato de produzir cópias e provas com permanência. Uma impressão em pigmento mineral é comparativamente mais cara e injustificável principalmente quando se trata de uma experimentação despretensiosa ou de provas cotidianas para editar um trabalho. Pesam contra as inkjets a diluição do investimento que é lenta e a durabilidade do equipamento que pode ser curta com uso inconstante. O laboratório por sua vez ocupa mais espaço e consome mais tempo, mas uma vez montado pode funcionar por décadas com papéis e químicos (se suas imagens estiverem registradas em negativos).

Era um desejo antigo poder fazer provas dos meus arquivos digitais e dos meus scans de negativos com a praticidade do digital e o custo e a permanência da cópia molhada.

Fui atrás então de descobrir quais eram os gargalos desse problema e se haveriam soluções para eles. A durabilidade das impressoras inkjet esbarram no entupimento das cabeças de impressão e na obsolescência dos drivers e dos sistemas operacionais que suportam determinados modelos. O investimento é ainda mais alto dependendo da largura do papel que se pretende imprimir e também porque a tinta é cara. Se gasta tinta para imprimir, para limpar a cabeça de impressão e para manter a cabeça de impressão com tinta fresca. Além disso, existe a questão do marketing, a tinta é uma parte lucrativa desse negócio e os fabricantes de impressoras lutam a todo custo para controlar quais tintas podem ser usadas nas impressoras a fim de proteger seus lucros que provém de impressoras já vendidas.

Bulk Ink

Para pesquisar, eu costumava abrir o Google e pesquisar palavras chave tais como: refillable cartridge, bulk ink, non oem ink. Assim eu via o que havia de novidades. Se você o fizer, é provável que um novo mundo se apresente a você, se ainda não o conhece. Você vai encontrar produtos que tem o intuito de baratear a impressão inkjet e expandir suas possibilidades.

Esse conjuntos de materiais e acessórios é uma enorme confusão e decifrá-lo é um desafio. Se misturam ai as tintas a base de corante sem marca definida cuja função é baratear ao máximo a impressão inkjet, as tintas a base de corante embaladas por empresas que oferecem cartuchos de impressão alternativos, as tintas a base de pigmento (tanto minerais como sintéticos) oferecidas em diversos patamares de qualidade e preço. Além disso há um enorme sortimento de cartuchos que podem ser enchidos novamente, há os que vem com um chip que precisará ser trocado, há os que vem com um chip que faz um autoreset, existem mangueiras, seringas, tanques externos, kits completos, uma parafernália e imensos tutoriais. A essência de grande parte desses materiais e equipamentos é deslocar o reservatório de tinta para o lado de fora da impressora com a ajuda de mangueiras que se conectam a cartuchos modificados, garantindo assim a liberdade de introduzir outras tintas na impressora e assim driblar as limitações que os fabricantes criam em suas impressoras.

Ainda surgem também kits e tutoriais específicos para desentupir impressoras, existem blogs sobre modelos específicos de impressoras que causaram muitas dores de cabeça ao redor do mundo. E por fim existem aqueles tutoriais de como fazer suas próprias tintas monocromáticas. Alguns desses tutoriais falam de tintas a base de carbono, um pigmento mineral estável e barato, que podem ser usadas nas impressoras com o auxilio dos tais acessórios e materiais. As tintas a base de carbono ainda oferecem menor risco de entupimentos na impressora, ou seja, ajudam na questão da permanência das cópias e na durabilidade do equipamento.

Decifrar esse novo mundo é aproximá-lo um pouco da experiência do laboratório p&b onde fazemos ajustes no químico para alterar o contraste, usamos uma viragem a sépia ou fazemos um rebaixamento, o processo se torna mais manual e o interior da impressora fica menos misterioso.

A minha história

A história que eu hei de contar é composta quase todas as facetas desse mundo. É a história de uma impressora que dava uma dor de cabeça danada, ela vivia entupindo e toda vez que entupia o dono dela via seu dinheiro ir embora em cópias em que faltavam cores, em tinta caríssima que era usava para a limpeza dos canais entupidos. Quanto mais limpava, mais entupia. Esse modelo incomodava tanta gente que muitos escreveram sobre essas impressoras na internet, cada um tentando entender porque os problemas se tornavam cada vez piores, ao invés de melhorar a cada limpeza. Nessa impressora, dos onze canais de tinta, dois não desentupiam mais, assim ela foi parar no lixo.

Eu já tinha lido sobre as possibilidades de criar uma tinta à base de carbono e sabia que uma impressora nessas condições poderia servir a esse propósito. E foi assim que a história com a Epson 4900 começou.

No caso dessa impressora os cartuchos de tinta ficam colocados na frente da impressora, mangueiras levam cada tinta a um feixe de outras mangueiras que juntas vão até a cabeça de impressão perfazendo uma enorme alça. Dentro da cabeça, cada mangueira encontra um pequeno dispositivo que funciona como filtro (para deter quaisquer coagulações) e que impede a passagem de bolhas de ar. Depois do filtro a tinta está na cabeça e vai percorrer canais finíssimos até ser expulsa em uma microgota que encontrará o papel.

Uma nota rápida: Como vocês hão de perceber, para explorar esse tutoriais sobre fazer suas próprias tintas, a impressora tem que ser Epson. Dos quatro grandes nomes para os quais é fácil achar cartuchos recarregáveis, a Epson e Brother são as únicas que utilizam o sistema piezo (um elemento controlado eletronicamente se expande e aumenta a pressão no líquido produzindo a gota que é expelida em direção ao papel). A tecnologia da Canon e HP é o sistema bubblejet (um elemento eletrônico esquenta a tinta para produzir uma micro bolha que expulsa a tinta pelo canal da cabeça em direção ao papel). Fazer uma tinta que não acumule no elemento que esquenta e assim evite entupir a cabeça dificulta muito essa exploração, nesse caso eu sugiro conhecer o trabalho da Precision Colors e suas tintas para Canon. Quanto a Brother, ainda não vi nenhum modelo que seja suportado pelo software que é utilizado para reinterpretar o conteúdo dos cartuchos e mediar isso com o computador e o programa sendo usado para imprimir a imagem.

Avaliando uma impressora para conversão

Sendo a impressora fisicamente grande e as mangueiras longas, a tinta se move lentamente pelas mangueiras e mesmo após uma troca de cartuchos é razoável supor que a tinta do cartucho anterior ainda possa passar meses dentro da impressora até a tinta mais fresca ser capaz de expulsá-la (se isso de fato vier a ocorrer). Dentro das mangueiras a tinta acaba não sendo agitada periodicamente. A vedação do cartucho contra a impressora também é importante, para previnir a entrada excessiva de ar no sistema toda vez que o cartucho for removido, agitado e devolvido ao seu lugar. Existem tutoriais para drenar tinta antiga das mangueiras, para trocar os filtros quando esse já não deixam mais passar tinta na quantidade sufuciente para alimentar a cabeça. Observei o feixe de mangueiras que levava tinta até a cabeça dessa 4900 e percebi dois canais com grandes bolhas de ar, chegando até 5cm de mangueira completamente sem tinta, enfim, uma situação nada animadora.

Essa primeira análise da impressora é bem importante para saber quais os possíveis problemas e soluções, determinar assim a viabilidade da recuperação. Além das mangueiras com ar, vi também as datas de validade dos cartuchos, o que me fez supor que alguns ali eram muito pouco usados e estavam parados há muito tempo, deveria evitar usar aqueles canais mais tarde. Fiz alguns testes da cabeça, mas nenhuma limpeza, já tinha lido que as limpezas deterioram a cabeça ainda mais. Analisei também a capacidade ainda presente no tanque de descarte, onde a tinta da limpeza vai parar.

A impressora ainda tinha 8 canais funcionando, era aceitável supor que ela funcionaria para esse projeto (eu precisaria na pior das hipóteses de 3 canais bons). A próxima etapa então seria encher a impressora com um líquido de limpeza que seria capaz de remover toda a tinta ainda presente nos canais que ainda funcionavam, limpando assim pigmentos coloridos, coagulações e bolhas de ar.

Lista de compras

Comecei então a pesquisar cartuchos recarregáveis, tanques de descarte, resetters, software de manutenção, uma máquina virtual para rodar esse software em Windows XP, seringas, garrafas PET, papel toalha os componentes do líquido de limpeza.

Encontrei os cartuchos recarregáveis pelo Ali Express, era um modelo que tinha mais capacidade de tinta que o Epson, 300ml ao invés de 220ml, tinha chips que faziam auto-reset, eram 10 cartuchos enormes, uma caixa bem grande para o kit todo. Kit veio da China e completo custou metade do preço de um cartucho Epson na época. O resetter do tanque de descarte e um tanque extra vieram da China também. 

A troca da tinta pelo líquido no caso de uma impressora com tantas mangueiras se dá pela função “ink charge”. Uma bomba de vácuo aspira o volume de tinta das mangueiras através da cabeça para o tanque de descarte, até as mangueiras estarem preenchidas com líquido novo direto do cartucho. No caso dessa impressora, o “ink charge” é feito exclusivamente pelo software de manutenção que não é distribuido publicamente. No caso da Epson 4900, como as limpezas deterioravam muito a cabeça de impressão, se difundiu o uso de “ink charges” para jogar fora a tinta parada nas mangueiras. Apesar dessa prática descartar muito mais tinta que uma limpeza, muitas vezes o resultado era mais duradouro (em situações extremas, usuários dessas impressoras usavam o “ink charge” para encher a impressora de líquido de limpeza e depois voltavam a instalar cartuchos Epson com tinta mais nova). Logo, esse software circulava na comunidade e um usuário de um fórum fez a gentileza de compartilhar comigo para a limpeza dessa impressora. Tinha Windows XP com a ajuda do Parallels num Macbook branquinho antigo para usar o scanner Pakon e essa instalação acabou servindo.

O líquido de limpeza é uma mistura de água destilada, glicerina e agentes umectantes comuns no laboratório p&b. A fórmula que eu usei foi a desenvolvida pelo Paul Roark, chamada C6b, uma base genérica para misturar tintas de inkjet que pode ser usada também como líquido de limpeza. Ela pode se misturar com tintas Epson e com tintas a base de carbono, tornando-a um bom líquido de transição, já que tintas Epson e tintas a base de carbono não devem se misturar.

A primeira limpeza 

Mesmo sem instruções detalhadas, consegui usar o software de manutenção e carregar líquido de limpeza pelas mangueiras, pude conferir o resultado visualmente e após a primeira “ink charge” alguns canais já mostravam cores esmaecidas no “nozzle check”. O canal preto está sem mudança algumas, provavelmente havia morrido ou a válvula de seleção de “glossy” ou “matte” estava entupida. Segui adiante e fiz um segundo “ink charge”, as cores sumiram quase todas. Esse é um momento importante para avaliar cada canal, o tempo de levou para limpá-lo e poder escolher os melhores canais da impressora para usar após a conversão. Outros canais, mais problemáticos ficarão com líquido de limpeza permanentemente no cartucho, já que a impressora regularmente ejeta um pouco de tinta para manter a cabeça desentupida, mas não serão usados na impressão.

Faça sua própria tinta

Antes mesmo de decidir misturar tinta a base de carbono, acabei tropeçando em alguns tutoriais interessantes de gente que fez diversas diluições diferentes de tintas pretas (Epson Matte Black, Inktec Black pigment ink, etc). Esses conjuntos de diluições, que o pessoal chama de inkset, servem para criar um degradê do preto ao cinza claro e tem o intuito de melhorar a gradação das cópias monocromáticas.

O princípio é o mesmo das impressoras que usam as tintas K (black), LK (light black) e LLK (lighter light black). Quanto mais tons diferentes, mais fácil para a impressora criar uma gradação suave na cópia p&b e assim reproduzir o tom contínuo das cópias produzidas no ampliador. Para os inksets que eu criei, usei seis tons da tinta original: 100%, 30%, 18%, 9%, 6% e 2%. Seis tons provavelmente é muito, cheguei a testar apenas 4 tons e constatei que é quase impossível distinguir as cópias. A única vantagem de ter seis tons logo é ter mais tinta dentro da impressora e passar mais tempo sem ter que lidar com seringas e garrafinhas de líquido que potencialmente podem imundiciar a casa.

Diluição no quê? Uma característica interessante da base C6b é que ela pode diluir tanto pigmento carbono quanto tintas originais da Epson, então ela serve para uma gama enorme de possibilidades. A tinta a 100% é a tinta original pura, as outras são misturas da tinta com a base C6b. Até onde pude comprovar, seringas disponíveis nas farmácias oferecem precisão suficiente para repetir a formulação ao longo do tempo (presumindo que a mesma seringa é usada). Usei pequenas garrafas PET para armazenar as diluições prontas. Uma dica importante é sempre preparar a 2% primeiro, depois a de 6% e assim por diante para evitar que uma contaminação da seringa que possa afetar as diluições mais fraquinhas.

Inksets que você pode fazer existem vários, desde os mais fáceis com apenas a cor do pigmento original (matte black ou carbono que é ligeiramente sépia) somente para papéis matte até os mais complicados que podem ser usados em papéis glossy e com tintas extra com pigmentos minerais amarelo e ciano. Essas cores são aplicadas junto ao preto para deixar o preto mais quente ou mais frio, dependendo do gosto do fotógrafo. Já falei aqui antes da Inktec, uma tinta sul-coreana a base de pigmentos sintéticos, e um inkset com um preto matte Inktec pode ser muito barato. Imagino esse inkset como uma solução interessante para provas rápidas com tom neutro num papel matte mais em conta também.

Quando fiz meu primeiro inkset tentei seguir as instruções do inkset C6 no site do Paul Roark (que o concebeu) e comprei o carbono direto da loja MIS nos USA (esse carbono do kit C6 é um carbono puro desenvolvido para quem vai fazer inksets do tipo DIY). O carbono demorou muito tempo para chegar ao Brasil, nesse meio tempo quase comprei um litro de tinta preta Inktec, mas acabei achando um cartucho T511 antigo da Epson com 500ml de tinta preta. Isso estava num canto de uma loja de impressoras num cesto de itens quaisquer com um preço muito convidativo. Comprei pensando em usar aquela tinta enquanto não consegui resolver o recebimento do carbono, mas mais tarde me encantei pela cor (que provavelmente é de carbono também, mas mais quente). Usar uma tinta vencida há 10 anos me atraia mais também. Uma conta para se fazer é que 500ml de tinta pura podem virar 300ml de um inkset de seis tintas, ou seja 1800ml de tinta pronta para a impressora. E esse tanto de tinta equivale a muitos picolitros que podem se espalhar por muitos metros quadrados de papel.

QTR

Bom, já expliquei como salvar a impressora dos entupimentos e que temos que misturar a base de carbono com glicerina, umectantes e água destilada. Resta saber como explicar ao computador o seguinte: onde antes havia uma tinta ciano agora habita um cinza 9%, por exemplo.

Talvez vocês até saibam melhor do que eu o que é um rip, um software desenvolvido para organizar a fila de impressão e fazer a entrega dos arquivos a serem impressos para a impressora. Existe um rip específico voltado para imagens monocromáticas em impressoras de qualidade fotográfica chamado QuadTone RIP. Seu intuito era conseguir um melhor aproveitamento nas impressões p&b, permitindo ao usuário criar curvas e controlar a tonalização das cópias, coisas que não eram possíveis com drivers originais das Epson há 10 ou 15 anos. Esse rip se coloca entre os programas e a impressora, lado a lado com o driver da Epson como uma alternativa que pode ser escolhida nos diálogos de impressão. Ao escolher o QTR você passa a ter controle sobre quais tintas serão usadas e que curva será usada para controlar as altas e baixas luzes da cópia, atuando com a função equivalente ao perfil de cor na cópia colorida.

Se você produz cópias monocromáticas na sua impressora e ainda não experimentou QTR, fica aqui essa dica. Para trabalhar com um inkset feito em casa, esse tipo de software é essencial. Para conhecer melhor o QTR recomendo a leitura do tutorial do Amadou Diallo que consta do site oficial do QTR, é um tutorial simples que deixa clara a função da ferramenta e oferece quatro níveis de complexidade no seu uso. Para inksets feitos em casa as etapas são as mais complexas, não vou discutir aqui todas elas, vou falar mais da produção do descriptor file.

Arquivos de configuração

O descriptor file do QTR é um arquivo de texto que descreve o inkset sendo usado, é graças à informação presente ali que o driver consegue transpor os valores dos tons de cinza da imagem para a quantidade de tinta a base de carbono. Vou exemplificar aqui com o arquivo que eu criei em Dezembro de 2019 para a minha Epson 1400, a terceira impressora que eu converti.

#NOTES 1440 dpi, Uni-directional.  GM 12-2019

PRINTER=Quad1400-MIS

N_OF_INKS=6

DEFAULT_INK_LIMIT=35

BOOST_K=

LIMIT_K=

LIMIT_C=

LIMIT_M=

LIMIT_Y=

LIMIT_LC=

LIMIT_LM=

N_OF_GRAY_PARTS=6

GRAY_HIGHLIGHT=8

GRAY_SHADOW=4

GRAY_INK_1=K

GRAY_VAL_1=100

GRAY_INK_2=C

GRAY_VAL_2=60

GRAY_INK_3=M

GRAY_VAL_3=42

GRAY_INK_4=LC

GRAY_VAL_4=15

GRAY_INK_5=LM

GRAY_VAL_5=7

GRAY_INK_6=Y

GRAY_VAL_6=3

GRAY_GAMMA=1

GRAY_CURVE=

LINEARIZE=”98.83 96.78 95.05 91.42 86.44 82.62 78.16 71.79 67.08 64.65 61.11 56.33 51.41 46.8 43.36 40.13 38.19 33.32 28.65 22.14 18.78″

O primeiro elemento que se vê nesse arquivo é uma área de notas que graças ao símbolo # será ignorada pelo software. Essas notas servem para identificar o arquivo e te ajudar a lembrar quais configurações usou no diálogo de impressão para gerar os testes. Por exemplo, caso use outra configuração de dpi de impressão,  o resultado pode ser diferente.

O segundo conjunto de informações contem a impressora usada, a quantidade de tintas usada e o limite default das tintas. Limite de tinta é a quantidade máxima de tinta que ainda torna a impressão mais escura. Depois de um certo ponto acrescer tinta não escurece a cópia, apenas gasta tinta. Cada combinação de papel e tinta tem seu limite. O tutorial presente no pacote QTR ajuda a descobrir esse limite, um artigo do Paul Roark ensina a fazer isso com um scanner ao invés de um densitômetro.

O terceiro conjunto de informações se refere aos limites de cada tinta, nesse caso, acabei optando por ficar apenas com o default, já que os individuais pareciam ser o mesmo. Essa tinta cobre o papel com muita facilidade, por isso um limite tão baixo com aproximadamente um terço da quantidade de tinta que a cabeça pode expelir.

O quarto bloco, o maior, relaciona o local de cada tinta e seu valor em relação à tinta mais escura, é aqui que as diferentes diluições ganham nome e um valor de cinza que é obtido através do mesmo tipo de teste que define os limites, com um pouco de matemática. Os tutoriais explicam essas etapas muito melhor do que eu jamais seria capaz.

Por fim, o quinto bloco contém a informação sobre a linearização da curva, que ainda é uma etapa mais avançada para ajudar ao software entender onde utilizar cada uma das tintas na hora de produzir degradês e passagens de um tom para outro com suavidade. A linearização pode ser omitida, já que apenas com limites bem definidos os sistemas costumam ser capazes de boas imagens.

Gerar esse arquivo e incluir as informações corretas é descrito nos tutoriais e instruções que acompanham o QTR. Tudo é feito das informações que são obtidas depois de imprimir alguns alvos como esse, que posteriormente são escaneados e medidos usando um software de retoque digital (Photoshop, Gimp, etc).

Fluxo de Trabalho

Fazer cópias de carbono é um pouco mais complicado que uma impressão normal, mas é bem pouquinho. Ajuda ter uma pequena listinha num pedaço de papel ao lado do computador, principalmente se for como eu e só fizer as cópias de vez em quando.

Abra o seu arquivo de imagem e faça todas as modificações que achar convenientes. Quando o arquivo estiver pronto converta para tons de cinza. Costumo gravar uma cópia específica para a impressão, logo duplico aquele arquivo original com os tratamentos e adiciono o tamanho da cópia pretendida ao seu nome, caso eu faça alguma mudança para aquele tamanho de cópia (unsharp mask etc). A conversão para grayscale é simples, mas o Photoshop precisa estar configurado para trabalhar com o perfil Gamma 2.2 para arquivos em tons de cinza. Caso o arquivo já esteja em tons de cinza, confirme que esse é o perfil utilizado.

Entre no diálogo de impressão do Photoshop e escolha a impressora virtual criada pelo QTR para sua impressora. A partir dali configure tamanho, bordas, etc. Selecione a opção para o Photoshop fazer o gerenciamento de cor, escolha o perfil do QTR de acordo com o acabamento do seu papel (glossy ou matte). Clica em OK e você é jogado para o diálogo de impressão do sistema. Acesse ai as opções do Quad Tone Rip, escolha a curva que você criou estabelecendo os limites de tinta para o seu papel. Escolha a mesma opção de DPI, de movimento da cabeça de impressão (uni ou bi-direcional). Caso necessário, vasculhe as notas que você criou dentro do arquivo da curva, como lembretes dessas opções. Já está, basta imprimir agora.

Papel para cópias de carbono

Meu papel preferido para essa tinta de carbono é o Hahnemuhle Photo Matt Fibre Duo 210gsm. É um papel que se pode imprimir em ambos os lados (útil em postais, por exemplo) e que alcança um preto bem escuro comparado a outros papéis matte. Inksets simples como o meu, só permitem imprimir em papéis matte. Para usar papéis com algum brilho existem inksets mais complicados, mas que também podem ser feitos em casa.

O poder de cobertura do carbono obtido na MIS ou na STS é muito grande, há que se ter cuidado ao criar os limites para não permitir muita tinta no papel. Por exemplo, na minha Epson 1400, o limite default é 30% para todas as tintas, ou seja, a impressora poderia colocar muito mais tinta sobre o papel, mas isso não deixaria a cópia mais escura.

Permitir mais tinta que o necessário também causa problemas de baixa luzes com pouca separação e detalhes. Por outro lado é importante observar as altas luzes do arquivo e ter certeza de que elas estão ali entre os 0% e 5% de tinta, para que fiquem com o branco do papel.

Como a foto acima mostra, esse papel tem um tom ligeiramente quente, que combina com o tom quente da tinta carbono. As duas referências de cinza ajudam também a dar uma noção de quão quente é o preto do carbono. Para efeito de comparação, aqui o arquivo original, apenas em tons de cinza. A cópia ainda tem os detalhes do piso escuro e dos prédios distantes ao fundo.

Um portfoliozinho 13x18cm

Logo que eu terminei de converter a Epson 1400 fiz uns postais e umas cópias pequenas. Devo confessar que o formato 5×7″ é meu predileto ultimamente.

Resolvi então fazer um pequeno portfolio com algumas das imagens mais áridas dos últimos anos no Brasil. É um lugar abandonado e desprovido de pessoas.

Epson 4900 • investigação

Depois que o erro 1A39 foi, ele voltou e ficou. Decidi salvar umas peças da impressora para uma outra que ainda funciona, por enquanto.

O Claudio Machado veio bisbilhotar essa impressora. Ambos curiosos, desmontamos tudo, só não rompemos os canais de tinta, impressora babando ninguém merece…

Guardei tanques de manutenção, cortador, unidade de rolo de papel, painel frontal.

Queria aproveitar e deixar um abraço aqui para o cara que inventou os cartuchos de impressora com chips que são auto-ressetáveis, cara isso é lindo e mágico!

Carbono • é… entope também…

Acabei ficando um mês e meio sem usar a impressora e duas cores que estavam entupindo com facilidade, acabaram entupindo para valer. Diversas noites com limpa-vidros aplicado no parking pad não resolveram nada, várias limpezas também não.

A impressora tinha 3 cores que já não iam bem antes, com isso fiquei com apenas 5 cores funcionando e um inkset de 6 tons de preto. Mudei o 100% para o canal Magenta que ainda estava bom, mantive 30%, 9%, 6% e 2%. Perdi o canal de 18%. Refiz os cálculos dos crossovers e criei um novo descriptor file.

O QuadToneRip entende a impressora e a localização das tintas a partir de um arquivo chamado QuadTone descriptor file, que é apenas um arquivo TXT mais ou menos assim:

# QuadToneRIP curve descriptor file
# for 4900 with T474 Epson Archival Ink diluted inkset

PRINTER=Quad4900
CALIBRATION=NO
GRAPH_CURVE=NO

N_OF_INKS=10
DEFAULT_INK_LIMIT=65

LIMIT_K=0
LIMIT_C=0
LIMIT_M=0
LIMIT_Y=
LIMIT_LC=
LIMIT_LM=
LIMIT_LK=0
LIMIT_LLK=
LIMIT_OR=
LIMIT_GR=

#
# Describe usage of each ink
# All inks must be listed
#

# Gray Partitioning Information

N_OF_GRAY_PARTS=6
GRAY_INK_1=OR
GRAY_VAL_1=100

GRAY_INK_2=LM
GRAY_VAL_2=40

GRAY_INK_3=LC
GRAY_VAL_3=30

GRAY_INK_4=Y
GRAY_VAL_4=20

GRAY_INK_5=LLK
GRAY_VAL_5=10.5

GRAY_INK_6=GR
GRAY_VAL_6=5

GRAY_INK_7=
GRAY_VAL_7=

GRAY_HIGHLIGHT=6
GRAY_SHADOW=6

GRAY_GAMMA=1
GRAY_CURVE=

# Toner Partition Information

N_OF_TONER_PARTS=0
TONER_INK_1=
TONER_VAL_1=
TONER_INK_2=
TONER_VAL_2=

TONER_HIGHLIGHT=
TONER_SHADOW=

TONER_GAMMA=
TONER_CURVE=

# Unused Inks

N_OF_UNUSED=6
UNUSED_INK_1=C
UNUSED_INK_2=M
UNUSED_INK_3=OR
UNUSED_INK_4=Y
UNUSED_INK_5=LM
UNUSED_INK_6=LC

UC_NEUTRALIZER=NO

A parte do gray partitioning information é o X da questão. E foi ali que eu mudei o número de canais e onde eles estavam posicionados. Refiz o ink charge do lado direito e bati uma calibração para ver se tinha as 5 tintas funcionando 100%. A matemática não falhou e fica muito difícil achar uma diferença entre as cópias com 6 tons e das de 5 tons.

Update #1 21/02/19: perdi mais um canal, o Y, agora tenho 4 tons de carbono e continuo indo.

Update #2 21/02/19: erro fatal 1A39, a cabeça morreu. Isso explica o dropout de amarelo.

Update #3 28/02/19: uma das possibilidades de um erro 1A39 é um curto no flexível que vela os comandos à cabeça de impressão. Uma checagem possível é remover a cobertura da cabeça (seis parafusos philips) e recolocar o flexível grande à esquerda da cabeça. Fiz isso e a impressora foi capaz de realizar um teste de cabeça sem soluços. Essa semana parada gerou uns entupimentos. Coloquei líquido no parking pad e vou deixar umas horas antes de tentar limpar.

Carbono • Configurando um papel

“O próximo passo é definir um papel e fazer uma série de testes até chegar num ICC para poder imprimir sem sustos.” Encerrei o último post sobre o Carbono com essa frase e fui trabalhar (lentamente) nisso, usando o QuadtoneRIP.

A primeira leitura, mais importante nesse momento, é um PDF disponibilizado num site chamado Diallo. É um workflow que você pode seguir em níveis diferentes, no caso de alguém que está criando um inkset novo com um papel novo, tem que se começar o nível mais complexo (4) e executar todas as tarefas até o nível mais básico (1) um vez para poder configurar impressora, tinta e papel. Depois o nível básico é o que a pessoa vai executar para poder imprimir.

Para executar algumas dessas tarefas, vale a pena ler esse artigo do Paul Roark que já foi mencionado aqui antes (caso você não disponha de um espectrofotômetro como eu).

Estou seguindo a risca esses dois textos e os resultados até agora são muito bons. Os papéis que pretendo usar são o Matt Fibre da Hahnemühle, da linha Photo, de 200gsm que imprime lindamente com carbono e que é fácil achar aqui no Brasil. Depois estou preparando também um perfil para um Fabriano de gravura que eu tenho algumas folhas grandes, quero aproveitar esse “lote” para imprimir um trabalho que peça mais textura. Por fim eu tinha um resto de papel de fundo infinito branco muito bonito e resistente, já tinha cortado uns pedaços para a inkjet normal e gostei do papel, cortei uns pedaços menores e estou testando com carbono, não dá tanto preto, mas tem um jeito diferente que me agrada.

Ainda não encontrei um papel que quero muito usar nessa impressora, quero achar uma bobina de papel kraft (de embrulho) de 40cm de largura e 150gsm, mas está difícil, nessa largura só tenho achado 80gsm e é meio transparente, não tem graça.

Carbono • resetter chegou

Passados os dias de praxe, o resetter fez a viagem da China até o Brasil com direito a um descanso lá em Curitiba.

Ele funcionou de primeira e logo pude fazer os dois initial charges do lado direito que faltavam para testar um novo caminho para a tinta a 100%. O primeiro com líquido de limpeza (fórmula encontrada no LFPF) e o segundo já com tinta no cartucho.

Testei encher o cartucho do LK com a tinta preta pura e o resultado foi bem melhor o que o canal OR.

Você pode ser perguntar como é possível que seja indiferente em que canal estará a tinta preta. O software que vou usar é o QuadToneRip e ele é focado em impressões P&B. O QuadToneRip entende a impressora e a localização das tintas a partir de um arquivo chamado QuadTone descriptor file, que é apenas um arquivo TXT mais ou menos assim:

# QuadToneRIP curve descriptor file
# for 4900 with T474 Epson Archival Ink diluted inkset

PRINTER=Quad4900
CALIBRATION=NO
GRAPH_CURVE=NO

N_OF_INKS=10
DEFAULT_INK_LIMIT=65

LIMIT_K=0
LIMIT_C=0
LIMIT_M=0
LIMIT_Y=
LIMIT_LC=
LIMIT_LM=
LIMIT_LK=0
LIMIT_LLK=
LIMIT_OR=
LIMIT_GR=

#
# Describe usage of each ink
# All inks must be listed
#

# Gray Partitioning Information

N_OF_GRAY_PARTS=6
GRAY_INK_1=OR
GRAY_VAL_1=100

GRAY_INK_2=LM
GRAY_VAL_2=40

GRAY_INK_3=LC
GRAY_VAL_3=30

GRAY_INK_4=Y
GRAY_VAL_4=20

GRAY_INK_5=LLK
GRAY_VAL_5=10.5

GRAY_INK_6=GR
GRAY_VAL_6=5

GRAY_INK_7=
GRAY_VAL_7=

GRAY_HIGHLIGHT=6
GRAY_SHADOW=6

GRAY_GAMMA=1
GRAY_CURVE=

# Toner Partition Information

N_OF_TONER_PARTS=0
TONER_INK_1=
TONER_VAL_1=
TONER_INK_2=
TONER_VAL_2=

TONER_HIGHLIGHT=
TONER_SHADOW=

TONER_GAMMA=
TONER_CURVE=

# Unused Inks

N_OF_UNUSED=6
UNUSED_INK_1=C
UNUSED_INK_2=M
UNUSED_INK_3=OR
UNUSED_INK_4=Y
UNUSED_INK_5=LM
UNUSED_INK_6=LC

UC_NEUTRALIZER=NO

A parte do gray partitioning information é o X da questão.

As partes do arquivo que ficam depois do # são ignoradas pelo QTR, assim você pode fazer anotações para você mesmo, como por exemplo, na segunda linha uma descrição desse arquivo, anotei que a tinta para a qual ele foi criado é a tinta tirada dos cartuchos T474 que eu desmontei. Esse é um arquivo ainda cru, que não tem nenhuma informação de linearização nele, isso é a próximo passo, descobrir como essas seis diluições interagem e como se somam para dar densidade no papel.

De novo voltando a primeira etapa aqui que é imprimir o inkseparation para ver a densidade crescendo e avaliar quanta tinta é o limite de cada papel. A barra bem escura mais ao centro é o canal LK preenchido com tinta 100%. Uhu!

Maravilha! Agora temos preto!

A ansiedade é grande, então porque não fazer uma cópia antes de linearizar esse perfil?

Como o inkset é parecido com outro que já foi feito antes que é a base do perfil, a primeira cópia fica bem próxima do esperado e tem detalhes na alta e na baixa.

O próximo passo é definir um papel e fazer uma série de testes até chegar num ICC para poder imprimir sem sustos.

Para encerrar o post, o Carbono definitivo chegou do EUA e em breve chego nele.

Carbono

Há uns tempos eu cheguei a pegar uma impressora inkjet grande da HP, acho que era uma z3200 de 61cm, mas os problemas eram tantos que comecei a acreditar que ela nunca voltaria a ligar, desisti. De qualquer maneira ali nasceu uma curiosidade com essas novas impressoras que substituem os ampliadores que todo mundo tinha décadas atrás.

(Fica aqui um leve alerta, esse post ficou muito longo. Ele foi escrito em partes durante o processo. Eu reli tudo no final, mas não necessariamente consegui corrigir a concordância verbal e temporal ao longo de todo o texto. Boa sorte!)

As inkjets com tintas a base de pigmento são algo ainda muito caro para uma experimentação qualquer, mas merecem leitura e isso eu fui fazendo, até para entender quais seriam os caminhos mais simples (sim, eles existentem). É claro, acabei indo ler sobre o carbono que é uma maneira de baratear a impressão monocromática das inkjets, pois bem, existe gente por ai  inclusive fazendo/misturando tintas para inkjet a base unicamente de carbono. São tintas monocromáticas, é claro, que são altamente resistentes ao tempo e à luz, mais que os pigmentos, são muito mais baratas também, além de não entupir as cabeças. E ainda podem ser usadas em impressoras com vias/cores entupidas, porque usam menos vias (pelo menos 4).

Ah! Tem que ser Epson. Não é questão de gosto, é que a tecnologia da Canon ou HP esquenta a tinta para produzir uma micro bolha que espulsa a tinta pelo canal da cabeça. Bom, fazer uma tinta que não acumule no elemento que esquenta e assim evite de entupir a cabeça parece que ainda é bem díficil.

Ai apareceu essa Epson 4900, de 2010, com 12.000 folhas impressas e um canal de tinta totalmente entupido (acontece demais com as x900). Ela ia para o lixo talvez (vale menos do que a troca da cabeça) e eu já tinha lido que o carbono talvez pudesse salvá-la. Tinha tinta ainda dentro dela, comecei a juntar os itens necessários para a conversão e fui jogando com as tintas que ainda estavam lá dentro para manter a cabeça fluindo. Com alguns solventes específicos e alguns “truques” fui desentupindo as outras cores que já começavam a se fechar devido à falta de uso. Dai eu descobri o sr. Paul Roark e seu site incrível. Ali eu aprendi que tem gente por ai misturando suas próprias tintas, uma coisa seríssima, possibilidades incríveis. Passei a vasculhar a seção de limpeza do supermercado com mais carinho ainda, fui fuçar em lojas de essências e em casas cirúrgicas. Depois conheci o estúdio do Marcos Ribeiro, além de impressões com as tintas da Epson, ele também faz impressão com carbono comercialmente, isso também abriu novos caminhos, uma maneira mais simples de olhar para a tinta, que lembra a maneira com a qual olho para o revelador/fixador, sabendo que posso desmontá-los e montá-los novamente, reformular e modificar.

Na verdade existe uma galera que faz isso num nível mais simples com tintas menos chiques, veja por exemplo esse sub-Fórum do portal Printer Knowledge e “tudo que as pessoas colocam” em suas impressoras.

Continuando com a 4900, enchi os cartuchos chineses com um fluído de limpeza que eu mesmo fiz e me preparei para usar um software que eu descolei num fórum russo para encher a impressora com esse líquido (initial charge ou o carregamento inicial de tinta quando os primeiros cartuchos são instalados) e assim abrir o caminho para o carbono (que ainda está em trânsito). Eu aguardei um pouco por conta de um problema, o tanque de manutenção. Esse tanque coleta os resíduos de tinta da impressora e quando ela acha que ele encheu, ela aguarda você ir comprar outro. Isso não é tão legal assim. Para poder usar esse tanque novamente, depois de esvaziá-lo, você precisa providenciar um resetter (uma máquininha que encosta no chip do tanque e volta ele ao 100% vazio) e o meu resetter está em trânsito. O grande problema aqui é que o initial charge enche o tanque de manutenção rapidamente e isso é uma questão pois ele acaba tendo que ser trocado no meio desse processo.

Mas dai deu um problema com o carbono, que a loja se negou a enviar via correios e cancelou o pedido. Já fui atrás de outra loja, mas isso vai demorar um pouco mais. Comecei a explorar as possibilidades locais, temendo pela impressora parada queria algo que pudesse colocar ela para imprimir logo. Fui à região da Santa Efigênia numa loja que eu curto do mundo do Bulk Ink ver o que havia disponível. Achei essa tinta pigmentada da Inktec (Coréia do Sul). Vasculhando os fóruns como o que eu já linkei aqui atrás, você pode ver que a Inktec pigmentada tem ótima reputação entre os instaladores de bulk. Um litro de preto pigmentado custa entre 100 e 140 reais, dependendo de onde compra. Isso não é carbono puro, mas parece ser resistente ao tempo, à luz, tem um tom neutro e um preço imbatível. Fica anotado para o futuro.

Na mesma loja, quase sem querer eu achei uma estante num canto com alguns itens muito interessantes e bem vencidos. Acabei arrematando um cartucho Epson T511 vencido em 2005 de Archival Ink Black com 500ml de tinta.

Um cartucho dessa época, foi facílimo abrir e remover o saco de tinta de dentro. Abri a caixa preta sem auxílio de ferramentas e depois usei um estilete para remover esse filme plástico.

Esse acesso fácil não é possível com os cartuchos mais modernos.

Nesse ponto eu simplesmente cortei uma das pontas desse saco e com muito cuidado derramei ele dentro de uma garrafa PET de 500ml.

A caneta prateada foi bem útil para identificar essa garrafinha, rsrsrs. Nessa hora, parei tudo uns dois dias e reli tudo que eu tinha salvado e tudo que eu tinha imprimido sobre o assunto. Senti que era um momento crítico. Linearização, estabelecer limites de tinta, as configurações do QTR, uma loucura.

O carbono tem um problema que é o fato dele não poder encostar na tinta da Epson, podendo ocorrer uma reação. Então normalmente se faz um initial charge com líquido de limpeza, isso enche a impressora desse líquido e expulsa a tinta para o tanque de manutenção, para depois fazer o mesmo initial charge com o carbono. E dai você tem que limpar o tanque e limpar algumas peças onde a cabeça fica apoiada (capping station, wiper blade, wiper pad). Como a tinta que eu ia usar era a própria tinta Epson, apenas uma versão mais antiga, optei por pular essa parte e carregar direto a tinta que eu misturei. Assim precisei fazer apenas 2 initial charges somente do lado esquerdo da impressora, diminuindo sensivelmente a quantidade de tinta expulsa e isso teoricamente caberia no tanque de manutenção.

Diluí o líquido do T511 com a base sugerida pelo Paul Roark no site dele, a C6a. Depois do primeiro ink initial charge imprimi uma foto num papel comum, fiz uns nozzle checks.

Tinha dois problemas, a tinta 9% tinha muita coloração amarela, ou seja, havia tinta meio velha na mangueira que provavelmente resistiu à expulsão pela tinta que entrava. E o 100% estava mais claro que o 30%, ou seja, a tinta sem o diluente não fluia tão bem talvez, o fato é que o preto não estava preto, estava mais claro que o cinza médio. Então antes da segunda expulsão eu usei uma seringa para adicionar 5% de diluente na tinta 100% (que virou 95% nessa hora). Talvez eu devesse trocar todos os dampers dessa impressora. Não sei.

Para checar essas coisas a gente imprime o inkseparation10.tif que vem incluído no QTR (como abaixo). Como não tenho tinta no canal K ficam faltando as legendas, então inclui alguma à mão. Também imprimi um nozzle check na lateral esquerda. O problema está visível ali no “OR 100% ?” (LK, C e M ainda tem tinta saindo pela cabeça, mas o cartuchos tem apenas líquido de limpeza.)

Um detalhe do problema:

Bom, já fui muito mais longe do que com a z3200, hahahahahhaha. Agora vou aguardar o resetter e continuo o relato no próximo post.