No domingo passado estive no Tira-Olhos em Lisboa como um post recente pode atestar. Lá rolou uma cena interessante. Eu estava sentado no banco que fica ao pé de uma janela grande por entra luz difusa que preenche o ambiente. Escutava de longe a conversa despretensiosa entre a Paula Lourenço e Simone Wicca, que ocorria justamente no topo da escada que dá para a subsolo. É no subsolo onde fica o laboratório e de onde vinha um cheiro leve de éter. Esse odor específico para muitas pessoas lembra hospital, para outras lembra carnaval e para uns pouco remete à dificuldade que é fotometrar a luz ultravioleta, me incluo nesses últimos.
As duas, que tinham acabado de se conhecer, trocavam pequenas notas sobre os diversos processos históricos que cada uma desvendou ou estudou. Enquanto eu cá com as minhas idéias pensava que cada frase ali naquela conversa, por exemplo explicando o efeito da concentração de citrato ou qualquer outra coisa que o valha, significava um período de tempo. Porque para aprender um processo arcaico de fotografia, para desvendar suas etapas e detalhes cruciais, se exige tempo. Um frase naquela conversa poderia valer um ano de vida, seis meses de estudo ou vinte folgas seguidas ao longo de um trimestre. Se você quer saber quais folhas quando maceradas darão um tom mais rosados às imagens de antotipia, você precisa sair pelo seu bairro, coletar diversas folhas e fazer testes. A vida acadêmica não é muito diferente, na verdade, na academia os tempo podem até ser mais longos.
Onde eu quero chegar? Eu dediquei tempo assim também para aprender processos analógicos, mas será que os processos digitais são diferentes? Imediatamente comecei a elencar lembranças. As primeiras leituras sobre CCD linear fiz em 2002, construi a primeira câmera a partir de um scanner de mesa em 2004 e quando cheguei à quarta versão dessa câmera em 2009 me dei por satisfeito finalmente. Em junho de 2012 eu fiz a primeira limpeza no Cezanne recuperado, mas foi só em agosto de 2016 que eu consegui consertar o problema que causava uma formação de linhas paralelas nas imagens. Um ano depois talvez eu finalmente tenha entendido a maneira correta de usar a interface arcaica para corrigir a base marrom dos negativos coloridos. A história mais recente com a Epson 4900 e a tinta DIY a base de carbono foi outra que consumiu bastante tempo e ainda não chegou ao fim.
Talvez a impressão das imagens digitais com pigmento mineral seja um grande exemplo. Lembro vivamente de ler no fórum LFPF um cara dizendo que tinha instalado uma impressora e depois de uma semana tudo que ele tinha descoberto é que ele era um péssimo fotógrafo. Pois bem, é difícil mesmo transferir a imagem que se mostra bela na tela para o papel sem perder o frescor e o impacto, isso requer aprendizado e não somente gerenciamento de cor. Talvez nossos olhos sejam mais permissivos com a tela e não se deixem seduzir por qualquer coisa no papel, não sei, mas o fato é que é bem fácil estragar uma cópia.