Arquivo da tag: Laboratório P&B

Lâmpadas de vapor de sódio

No último post, ficou uma pendência: abordar as janelas da garagem e a questão da luz de segurança. É sobre isso que venho escrever hoje.

Quando instalei o ampliador na garagem, questionei-me sobre como poderia mantê-la escura o suficiente para trabalhar. Ao mesmo tempo, percebi que durante a noite, a única luz que penetrava pelas janelas era a proveniente das lâmpadas da rua de trás. Essas lâmpadas são de vapor de sódio, assim como a luz de segurança Thomas Duplex. A Wikipédia tem uma imagem bacana da emissão espectral dessas lâmpadas.


E se? Não tomei nenhuma medida em relação às janelas da garagem, na esperança de que a luz disponível fosse segura e suficiente para o trabalho. Na primeira noite em que usei o ampliador testei essa hipótese com papéis de grau fixo. Embora a luz seja segura, a quantidade que entrava era tão pequena que precisei usar uma fita de LEDs vermelhos para conseguir realizar acompanhar visualmente a revelação.

Outra dúvida surgiu em minha mente: a luz da rua afetaria o filme IR-F que ainda tenho para cortar e usar na câmera 6×6? Num certo dia da semana passada, desci até a garagem e cortei um pedaço de filme utilizando apenas a luz que entrava pela janela. Teve até alguns carros passando pela rua de trás em busca de uma vaga para estacionar. Em alguns minutos consegui fazer 5 rolos de 120 com um pedaço de 86cm, um trabalho rápido graças a iluminação. Testei dois desses rolos no dia seguinte e os revelei como de costume. A base veio limpa, sem véu – um sucesso absoluto!

A luz de segurança da cidade! Bom, não sei por quanto tempo. Muitas aqui no bairro já foram substituídas por LEDs brancos.

Nota: IR-F é um filme da IBF para imagesetters que utilizam laser infravermelho. Já falei nele aqui diversas vezes, seguindo o tag é fácil encontrar os outros posts relacionados.

Um novo cantinho para ampliação na garagem

Há uns meses eu havia decidido construir um caixa de ampliação, ou seja, um ampliador pequeno instalado dentro de uma grande caixa de madeira.

A ideia era aproveitar o espaço da garagem para ampliação sem ter que ter muito trabalho para escurecer o ambiente e etc.

Tinha conseguido uma caixa, fiz uns suportes para ela e estava em busca de um pequeno ampliador que pudesse doar a cabeça e talvez a coluna para o projeto.

Já estava desanimado com aquilo tudo quando me escreveu o Samuel da Bestacameras. Ele viu uns stories e me falou do Durst 138S que ele estava vendendo. Conversamos um pouco, uns dias depois eu dirigi até a Espanha para buscar o tal ampliador e tudo mudou.

Cheguei de volta a Braga, limpei e montei o Durst no único canto da garagem onde ele cabia. Comecei uma lista de afazeres e itens que eu precisaria providenciar para fazer essa história funcionar. Decidi começar tudo pensando que seria possível usar o ampliador durante a noite sem ter que vedar janelas e portão da garagem.

Do lixo saiu um pouco de madeira e espuma para fazer o porta-negativos, depois uma tábua de passar roupas que cortei para ser marginador com imãs do AliExpress.

Também achei um bidão que cortei para ser uma tina. Ao invés de focalizador de grão, uso um óculos de leitura bem forte que permite ver a imagem de perto na superfície do marginador. Uma fita de LED RGB ligada na cor vermelha serve de luz de segurança (sobre as janelas da garagem e a luz de segurança farei um post mais detalhado em breve).

Precisava soda cáustica e hidroquinona para fazer meu revelador preferido para papéis antigos. A soda achei no Leroy Merlin, a Hidroquinona veio de uma loja de fotografia analógica na Bélgica.

Nesse tempo todo fiquei pensando em quão improvisados eram meus primeiros laboratórios e de como fui ajeitando e fazendo as coisas ao longo dos anos. Tive laboratório de 1992 a 2019 e voltar a ter as coisas “do jeito que dá” é mesmo libertador.

Durante esses últimos quatro anos eu sonhava com meu último laboratório e todos os luxos e conveniências que eu tinha nele. É difícil reprogramar a cabeça para funcionar num espaço tão improvisado, mas parece que vai ser divertido.

Já estamos em pleno Outono e acho que não vou conseguir usar esse laboratório tanto antes da Primavera, mas vou indo e vou vendo.

O primeiro papel que decidi experimentar era um envelope quase vazio de Kodabromide W2 com aparência dos anos 1980.

Serviu pelo menos para mostrar que tudo funcionava. A imagem apareceu em foco, o revelador funcionou e não houve velatura grave. Minha ideia, por mais incrível que pareça, deu certo. As lâmpadas de vapor de sódio da rua de trás do prédio iluminam dentro da garagem, mas não velam o papel. Os carros que passam não deixam a garagem clara demais por tempo demais.

A primeira imagem feita nessa laboratório, manchas pequenas de onde os pedacinhos de hidroquinona mal diluída encostou no papel, velatura da idade pela borda da folha. Os imãs do marginador não deixaram sombra!

Ainda fiz mais uma tentativa com esse mesmo papel, mas não consegui resolver a questão do véu. Resolvi testar outro papel. Esses envelopes de Ilford Galerie em que a palavra “Galerie” está carimbada na etiqueta, são os primeiros a chegarem no Brasil. Isso deve ser de 1992 ou 1993.

Sempre tive muito sucesso com esses lotes bem antigos de Galerie. Esse não foi muito diferente. Com o mesmo revelador consegui uma imagem mais contrastada, mais pretos e menos véu. A base ficou bem cor creme.

Mas pequenos detalhes entregam a vida pregressa dessa folha.

Uma digital aqui, uma mancha ali.

Esse dia meus pensamentos ficaram em torno do que ainda vale a pena fazer num laboratório p&b. Existem tantas coisas hoje em dia que se resolvem mais facilmente com um arquivo digital e a impressão em carbono. Usar esses papéis antigos e lhes dar oportunidade de intervir no processo é algo que ainda faz sentido para mim.

Nostalgia com os labs

O primeiro foi num quartinho dos fundos na casa da minha mãe. Acho que essa é a única foto que ainda tenho dele. Detalhe para o corte que fiz no tampo da mesa para poder fechar a porta do lab.

Depois cheguei a ter um por uns tempos na minha casa, ele foi desmontado e montado novamente quando voltei do ateliê com o lab. É confuso, mas mostro esse depois.

O seguinte foi quando morei no Canadá, ele era num canto da cozinha. Um tecido bege cobre as coisas nas prateleiras, mas não esconde a bagunça. Gosto de como a coluna do Elwood quase bate no teto.

Depois veio o ateliê na Tabapuã, esse foi o mais espaçoso e sensacional que eu já tive, uma pena que durou tão pouco. Mas foi bem aproveitado, fiz algumas cópias grandes lá e consegui padronizar a revelação de filmes, juntei mais tranqueiras e deixei ele bem cheio.

As fotos acima eram com ele arrumadinho (para mandar para uma revista), abaixo dois flagrantes do dia-a-dia. Detalhe para as duas copiadoras que faziam; a chave cair e para a câmera pinhole grandinha que eu descolei. As caixas de madeiras grandes eram resto de uma mudança e coloquei rodinhas para poder mudar as coisas de lugar mais facilmente no lab, dependendo da necessidade.

Mas já na Tabapuã, tinha um outro espaço que ia ganhando importância, veja a pilha de scanners esperando serem desmontados nessa imagem. Detalhe para esse monstro que rodava Windows 98 e para o parassol que eu instalei no monitor.

Mais tarde, no outro ateliê na Rua Tabapuã, esse espaço de experimentação digital mais crescer um pouquinho mais.

O laboratório da Itacema aparece nesse vídeozinho aqui, é bem apertado o espaço, mas dá para ter uma idéia.

Carlos Moreira no Foco Crítico

Carlos Moreira nos deixou no início de Junho de 2020. Naquele dia, acabei compartilhando de bate-pronto esse vídeo pelo Facebook, uma breve entrevista no Foco Crítico em que falamos das cópias da exposição no Valongo em 2016.

O vídeo é uma rara oportunidade de ouvir ele falando sobre as cópias que ele produziu nos anos 80, suas preferências de papel e tamanho de cópias.

Filme gráfico em formato 120 • Ampliação

Logo que eu vi os contatos desse filme me encantei com essa imagem. Há uns 9 anos eu tentei fazer a mesma imagem em 8×10″, mas encontrei umas dificuldades com o filme colorido que eu usava na época. A exposição de 1 segundo garante que a espuma das ondas quebrando nas pedras vire uma massa branca, no filme de 2009 isso não ficou tão interessante.

O filme de 2019 em si trouxe algumas marcas e pequenos mofos que ficam mais visíveis na cópia de 80x100cm. O contraste exacerbado do filme ajudou o papel dos anos 80, o revelador que eu misturei também, uma variação do GAF 110 com menos sulfito, para arriscar um pouco de revelação infecciosa. Não apareceu tom de lithprint, mas ficou bem frio como Kodabromide deve ser, apesar de ter apenas hidroquinona no revelador.

Para projetar a imagem enorme, deitei a cabeça do ampliador numa prateleira e prendi o papel na parece oposta com clipes fortes!

Revelei na calha e o tempo longo da hidroquinona sozinha foi bem proveitoso para evitar excesso de manchas.

Nessa segunda imagem expus o papel ainda mais, cortei o tempo da revelação um pouco também, as bordas das áreas escuras parecem mais o efeito do lithprint, ou seja, houve mais revelação infecciosa.

Ainda falta o refile das bordinhas, acertar as cópias no esquadro, mas para um papel vencido há 30 anos, ter detalhes em branco já é uma vitória enorme.

Estratégias para papéis velhos • Lith Printing

Dentro os diversos papéis que eu guardei nos últimos anos existem alguns muito interessantes que foram ficando cheios de marcas e mofos. Acho que existem 3 estratégias principais para reaproveitar esses papéis e são elas:

• adicionar brometo de potássio ou benzotriazol ao revelador usado num processo normal de revelar papéis (por exemplo: Dektol, stop e fixador), a mais simples e com pior resultado;

• utilizar um revelador diferente que dê menos véu de base em papéis, lith print entra aqui, já que o revelador de chapa litógrafica dá menos véu e ele substitui o Dektol, por exemplo. Outros exemplos aqui e aqui. Não tão simples, com resultados interessantes, mas nem sempre os melhores;

• superexpor a cópia, revelar normalmente e depois rebaixar a cópia com Farmer’s, por exemplo. A superexposição serve para garantir os pretos depois do rebaixamento. A mais arriscada, com os melhores resultados.

Mas vou falar um pouco sobre o lith print hoje, contar alguns detalhes e linkar artigos anteriores que tratam desse assunto.

Diferentes papéis dão diferentes tons com lith print. Diferentes reveladores também! Existe uma infinidade de reveladores que se prestam a isso, em geral eles têm apenas hidroquinona como agente revelador e a quantidade de sulfito é ajustada para permitir a revelação infecciosa, já falei disso antes e não foi só essa vez.

Alguns papéis estão tão velhos que as manchas aparecem não importa o que se faça, outros não tão velhos acabam ficando com cara de novos, apenas com um tom mais quente que o normal.

Considerações sobre impressão

Ontem participei da oficina no IMS inspirada nas platinas do Irving Penn (Irving Penn: oficina de experimentações no IMS Paulista) e com Ailton Silva, Joanna Americano, João Luiz Musa, Leonardo Bittencourt, Millard Schisler e Sergio Burgi. O assunto da impressão fotográfica foi o tema central da coisa e isso está queimando aqui agora e nada sequer perto de uma conclusão para o assunto ou certezas para a vida, então entenda que esse post é apenas um monte de coisas.

Duas semanas atrás eu pesquisava textos para balizar uma discussão no grupo QF no Face. A discussão era sobre os limites dos experimentos que se pode fazer para explorar a fotografia analógica. Obviamente não existem limites, nem devem haver, mas fui capaz de encontrar algumas pessoas tentando dar essas tais balizas para cada um encontrar seus próprios limites ou fronteiras.

O primeiro texto que linkei lá é do David Kachel, criador dos SLIMT’s (uma série de métodos de revelação que sucederam o Zone System nos anos 90). Esse texto relaciona fórmulas publicadas erradas, grupos de Facebook, o ofício da impressão de fotografias, os arrependimentos de Ansel Adams. É uma visão muito pessoal, cheia de emoção. O tom desse texto puxa para o agressivo, não se deixem levar pelo desânimo dele, dá para discutir esses pontos com um pouco menos de emoção, mas é importante ele elencá-los juntos.

Depois eu falei do Paul Roark e das dicas dele para misturar as tintas de inkjet, apresentei ele assim lá: “O segundo texto é um PDF de um cara chamado Paul Roark, esse é o cara que fica panfletando a idéia de hackear as impressoras Epson e encher elas com as tintas que vc faz em casa usando carbono. Então antes de você, que leu o texto anterior, me falar que não é possível percorrer o caminho descrito pelo texto de Kachel, porque imprimir é caro demais no BR, vasculhe esse PDF, deixe a coisa assentar na sua mente, se quiser ver uma impressora funcionando assim, chega aqui no ateliê, eu explico como faz no meu blog, em português também.” Para achar dê um google em “Paul Roark BW Info”. São muitos PDFs, ali tem a base da conversão da impressora que eu fiz, procure o tag carbono nesse blog para ver esse hack.

Depois arrematei a parte que tocava no assunto impressão com o seguinte comentário: Vou citar aqui um trecho de Filosofia da Caixa Preta de Vilém Flusser, do capítulo da Distribuição das Fotografias: “Mas o que distingue as fotografias das demais imagens técnicas é que são folhas. E por isso se assemelham a folhetos […] o que conta em fotografias é a possibilidade de serem distribuídas arcaicamente.” Esse capítulo é importante para essa discussão da impressão, afinal não é a toa que o Kachel insiste que as imagens tem que ser impressas.

Beleza, então até aqui foi história.

Ontem a discussão avançou pelo processo do Irving Penn com platina detalhado num livro cujas páginas foram projetadas na tela, olhamos diversas imagens do lab dele nos anos mais produtivos.

Um lab para platina, como um lab para colódio, é planejado levando em conta o tamanho da imagem final que será feita. Não é como um lab p&b, que com um jogo diferente de bandejas e um marginador novo, já muda de tamanho a cópia.

Um ponto recorrente da discussão foi o fato dele usar como matriz positivos feitos com Kodachrome, ampliá-los em filmes de cópia para fazer negativos grandes que depois seriam contatados na platina. Esse processo era muito elaborado e complexo, principalmente quando se tinha 3 negativos distintos para mascarar a impressão na platina e expandir os tons da cópia, isso ainda exigia que o papel fosse colado em alumínio para não mudar de tamanho após cada série de banhos e secagem. Nada que seja necessário hoje em dia, uma manipulação simples e um negativo impresso em Pictorico resolve a maioria dos problemas.

Mas o que mais me pega ultimamente, ao olhar os processos é contabilizar o tempo que cada imagem impressa vai custar, o tempo que cada imagem capturada tomará. Ao longo da oficina de ontem, vi vários processos como platina e dye transfer, mas o tempo que cada um toma é algo a ser pensado antes da empreitada.

Sensitometria e Densitometria

Fuçando num livro, achei menção a uma fórmula antiga de revelador, digitei o nome dos caras que tinham inventado isso e acabei conhecendo os figuras que inauguraram a Sensitometria e a Densitometria. Bah!
Mais voltas pelo Google e achei uma publicação de 1920 com a transcrição dos cadernos deles usados nas pesquisas nos idos de 1896.
Os caras escreviam para os fabricantes cobrando um padrão quantitativo para a sensibilidade à luz das emulsões, algo tão simples para a fotografia atual…

Os tios são esses aqui. E aqui temos o tijolo.

Meu Laboratório em 1998

Depois do último post localizei uma imagem de como era o lab em 1998 logo que acabei de montá-lo com madeira reciclada de embalagens de autopeças.

É, eu tinha cabelo… Logo descobri que a caixa de som fazia o ampliador vibrar, mudei ela de lugar.

Prática Fotográfica • Meu Laboratório

Esse vídeo eu fiz em 2012. Esqueci dele. Fiz o upload no Vimeo em 2014. Esqueci dele novamente. Está um pouco datado, mas conta coisas interessantes do lab, inclusive detalhes que não existem mais.

Tenho o lab nesse local desde 1998, muita coisa mudou.