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Grid

Deve fazer uns dois anos que eu achei um projetor no lixo. Acho que por ele só ter uma entrada VGA deixou de ter utilidade, não havia errado com ele, nem a lâmpada estava velha (coisa que é comum). A resolução era baixa, apenas 800×600 pixels (SVGA).

Eu tinha essa ideia de fotografar alguns objetos com um grid projetado neles, sei lá, olhar para as linhas e para os limites, não sei bem, talvez seja apenas a intersecção das formas.

Mas foi essa semana que sobrou um tempo extra, tirei o carro da garagem, montei um estúdio improvisado ali, levei o projetor, liguei um laptop antigo, fiz um grid adequado. Experimentei com o tempo, com a altura do projetor, com o ângulo etc.

Fiz umas imagens com o smartphone para testar, enquanto faço uma lista mental dos objetos que pretendo fotografar.

O primeiro teste ficou escuro, é difícil fotometrar essas linhas e saber como vão aparecer num filme sensível a luz verde. Acabei optando por colocar um difusor sobre a luz da minha mesa de trabalho e deixar ela ajudar nos volumes (que é a foto que abre esse post).

Espelhamento • parte III

Lembrem que contei sobre essa exposição do projeto Actum num post anterior e disse: “…a mim interessa uma que fala do experimentalismo. Minha proposta foi então sair em busca de uma imagem desconhecida e encontrá-la quase da mesma maneira que a Ilha Desconhecida é encontrada no conto. Ou seja, fotografar uma cena que só existe enquanto o fotógrafo e câmara lá estão.”

Entitulei o trabalho de “Enquanto Estou Aqui”. A palavra “Aqui” se repete se olharmos o título do trabalho que fiz para a edição anterior desse projeto. Bom, aqui é uma enorme novidade na minha vida, se explica.

Hoje, mais cedo, abriu a exposição que ficará no Palácio do Raio até dia 25 de fevereiro.

Espelhamento • parte II

De fato eu voltei lá num dia de chuva, mas não registrei com o telefone porque o espaço sob o guarda-chuva era pouco para tanta atividade.

Uns dias depois abriu um Sol violento e voltei lá mais uma vez. A lama acumulada era funda e fiquei imundo, mas valeu a pena.

Aproveitei uma grande poça como espelho.

Reproduzi todos os negativos com minha caixa de reprodução e comecei a imaginar como juntar tantos dias e luzes distintos e como as imagens ficariam depois da impressão.

Acabei criando um grupo de 15 imagens das quais escolhi 3 para compor um tríptico. Experimentei imprimir com carbono sobre um papel matte da Tecco com 230g/m2.

E agora estou nesta etapa, em breve conto como ficaram as molduras na parede.

Espelhamento • parte I

Aqui em Braga tem um edital anual da câmara municipal chamado Actum. Esse ano o tema era o escritor José Saramago, em virturde do centenário do seu nascimento. Cada artista era convidado a se inspirar numa obra do escritor e fazer uma proposta dentro da sua própria disciplina.

O Conto da Ilha Desconhecida é meu velho conhecido, desde a época da faculdade. De um site de resenhas eu tiro 3 frases que resumem a premissa da obra:
“Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas.”

Existem inúmeras maneiras de olhar para esse conto, a mim interessa uma que fala do experimentalismo. Minha proposta foi então sair em busca de uma imagem desconhecida e encontrá-la quase da mesma maneira que a Ilha Desconhecida é encontrada no conto. Ou seja, fotografar uma cena que só existe enquanto o fotógrafo e câmara lá estão.

E desde que submeti a proposta fiquei de olho nas ruas da cidade, esperando encontrar um espelho abandonado que se encaixasse nessa idéia meio vaga que eu tinha. Nesse último domingo aconteceu, logo cedo quando eu saia para ir fazer uma comprinha.

É um espelho pesado, com um suporte metálico, provavelmente parte de um móvel de banheiro ou algo do gênero. Era um dia chuvoso perfeito. Um grande terreno aqui ao lado tinha sido recentemente limpo para a expansão de um parque, fui por lá espreitar, levei o espelho e a Linhof Technika 13x18cm com filme raio-x.

Voltei dois dias mais tarde e fiz mais umas tantas chapas, agora com o dia amanhecendo. Os próximos dias são de chuva, ainda planejo voltar lá mais um bocado. Enquanto isso vou pensando em como imprimir e como montar/emoldurar.

Linhof Technika II 13x18cm • parte V

Continuo fazendo testes e vendo a melhor maneira de revelar o raio-x que tenho aqui. Na última saída por Braga, fui ao Largo da Senhora a Branca e depois ao Largo da Senhora da Boa Luz.

As fotos da Senhora a Branca foram reveladas num dia bem quente e a tentativa de encurtar o banho se provou muito equivocada. Céu escorrido, vários problemas de uniformidade.

Na revelação seguinte, mantive o tempo, mudei a diluição e o resultado apesar da temperatura alta, foi mais agradável.

Linhof Technika II 13x18cm • parte IV

Há umas duas semanas, num sábado, finalmente carreguei filme nos chassis e sai para fotografar com essa Technika pela primeira vez. Escolhi o centro de Braga e depois também subi na capela de Guadalupe, de onde tirei essa imagem que segue.

Algumas coisas deram muito certo, outras deram muito errado. Sem parassóis nas objetivas tive alguns problemas de flare, ainda não estava bem treinado para usar minhas placas pretas como obturador, acabei revelando as chapas um pouco demais e criei alguns negativos bem densos.

Por outro lado foi um prazer imenso voltar a revelar coisas, principalmente numa caixa assim tão improvisada.

Após avaliar tudo que fiz nesse primeiro dia, adicionei mais uns itens na minha lista de pendências e deixei algumas anotações para o próximo processamento de imagens.

Os parassóis chegaram da China e logo instalei nas objetivas. Aqui fica também o registro em imagem do problema com o anel frontal da petzval. Depois tampei esse furo com cola quente preta, para evitar invasões do Sol.

Consegui parassóis para a petzval e para a G-Claron no AliExpress, também improvisei um jeito de prender um na Aldis. Para a objetiva Primoplane ainda preciso construir um sob medida.

Uns dias mais tarde sai para um outro teste, dessa vez fui ao Bom Jesus do Monte.

Continuei fazendo umas besteiras com o obturador manual, mas já senti alguma melhora. Esses problemas só não são visíveis nas imagens que eu publiquei porque no processamento digital é fácil corrigir se o erro não for grave. Mas às vezes o erro é tão brutal que não há solução. A dificuldade é expor filme ISO 200 sob o Sol com uma objetiva que é f/4 fixo, por exemplo. Fazer 1/500 de velocidade exige destreza.

Comecei fotografando as costas da Basílica com a Aldis Anastigmat, em f/45, consegui controlar bem a exposição e acho que fiquei feliz com o resultado. Braga ao fundo, o céu ainda guarda detalhes apesar do filme ortocromático.

Depois tentei uma foto dos jardins, mas essa realmente ficou tremendamente super-exposta e nem consegui um bom scan dela.

Na sombra das árvores, pedi ao Pedro Viana para posar para uma fotografia. Usei a petzval e consegui controlar bem a obturação. Para quem não viu as entrevistas da série Fotografia Portuguesa, o Pedro é um fotógrafo a la minuta (lambe-lambe em PT-BR) que trabalha no Bom Jesus.

Depois por fim, fotografei o coreto lá no alto do Bom Jesus com a Aldis novamente, em f/32.

Depois desse passeio, adicionei mais uns itens à minha lista de pendências, pequenas coisas para consertar e que vão me ajudar a fazer exposições mais curtas quando necessário. E conto dos avanços no próximo update.

Linhof Technika II 13x18cm • parte III

Continuei a caixa-laboratório. Achei uma promoção de sweat shirts do Notorius Big na Primark, acho que isso era da coleção anterior. Assim a caixa ganhou mangas, usei cola quente preta para fazer isso em 20 minutos, mas acho que é suficiente.

Depois tentei desamassar o anel de filtro da minha petzval, mas isso não correu bem, nem vou colocar foto aqui. É provável que o parassol 72mm que eu comprei e que está a caminho fique bem nela, mas um pedaço do anel quebrou.

Superada essa dor, passei à próxima tarefa: medir o foco no infinito para as 4 objetivas que pretendo usar e fazer furos que permitam o standard frontal travar no lugar certo.

Optei por fazer só 3 dos 4 furos necessários agora e ver se consigo usar o da 150mm para a 155mm.

Por enquanto é isso. Faltam 3 tarefas para limpar minha lista: aguardar a chegada dos parassóis; providenciar um pano preto para ver o despolido, focar e compor; providenciar duas jarrinhas graduadas para medir os químicos na hora de misturar.

Linhof Technika II 13x18cm • parte II

Nota: ao longo das minhas pesquisas descobri que estava enganado com relação ao modelo da câmara que eu tenho aqui. As informações sobre Linhof pré-1945 são muito confusas, mas achei alguma coisa aqui. Descobri que tenho mesmo uma Technika II ao invés de uma Standard como me havia sido informado. Corrigi os posts o melhor que pude.

Para revelar as chapas da nova Linhof pensei uma caixa simples como laboratório, já que ainda não disponho de um ambiente que possa ser transformado. Essa também é a opção mais barata.

Tinha um pedaço de compensado que imaginei como base da caixa. Achei duas garrafas grandes de detergente que poderiam ser convertidas em bandejas de revelação (tinas em PT-PT). O papelão veio do lixo reciclável, como as garrafas. A opção seria usar gatorfoam/k-line, mas sairia caro e não sei quanto tempo a umidade da garagem levará para deixar a caixa inutilizável. Bandejas de 13x18cm da marca AP custam entre 3,5 e 5 euros novas, talvez seja um investimento necessário se os filmes começarem a grudar no fundo dessas bandejas improvisadas.

Não tenho água corrente na garagem. Terei que levar a água necessária para o processamento e trazer tudo sujo de volta a cada para lavar. Terei que lavar as chapas em casa também. Cortei uma garrafa maior para fazer um balde onde vou depositar tudo que estiver usado.

Pintei a caixa por dentro e encomendei Rodinal e fixador rápido pelo correio, chegou bem rápido. O vinagre de limpeza veio do supermercado. Ainda falta visitar a loja da Cruz Vermelha e procurar um moletom preto do qual eu tirarei as mangas para instalar na frente da caixa de revelação.

Também cortei um pedaço de acrílico (recuperado de um monitor quebrado) para proteger o vidro despolido dentro da mochila.

Com ajuda de cotonetes, fiz uma super limpeza nos trilhos da parte frontal da Linhof e coloquei graxa nova ali (massa da lítio em PT-PT).

Vou continuar a resolver essas pendências da maneira mais econômica possível e assim que as próximas etapas estiverem concluídas, conto aqui!

Linhof Technika II 13x18cm • parte I

Voltei de Biévres com essa câmara.

Depois da mudança para Portugal tinha ficado sem nenhuma câmara de grande formato e recentemente tinha conseguido trazer do Brasil um pacote que tinha deixado reservado lá. A caixa continha filmes 5×7″ e 13x18cm, chassis para filmes e algumas outras peças para reformar uma futura câmara nesse formato que é o meu predileto.

Vi a câmara no sábado. Após ler esse post aqui sobre ela, bolei um plano de como poderia reformá-la para poder usá-la. Dai no domingo tomei coragem e comprei a dita. Era exatamente o modelo que eu procurava, parecida com as Technikas modernas que eu amo, mas muito mais barata. A necessidade de reforma facilitou a aquisição, mas ao mesmo tempo precisava ter certeza de que tudo que eu ia precisar ou eu já tinha, ou eu conseguiria muito facilmente.

Depois que voltei para Braga, comecei uma limpeza e também a retirada da traseira. Descobri que o ano de fabricação foi 1944.

Uma das peças que eu tinha guardada era uma traseira em madeira da marca Burke & James. Apesar do visual não combinar, o tamanho era perfeito. Usei cola epóxi e alguns parafusos para promover essa nova união.

Com isso feito, comecei a pensar em objetivas. Queria usar a minha G-Claron 150mm com certeza. Tenho uma Aldis de aproximadamente 275mm que também queria poder usar.

De uma tampa de caixa de vinho cortei alguns quadrados com 10,3cm de lado. Fiz chanfros na parte superior e inferior para encaixar na câmara e com uma serra de fio eu cortei os furos em algumas dessas placas.

Depois que as placas estavam secas, comecei a ajustar as objetivas nelas. Acabei fazendo uma placa para uma objetiva Petzval também. E para essas objetivas sem obturador, improvisei um com um pedaço de veludo preto colado num darkslide 9x12cm.

Ainda preciso providenciar um pano preto para poder compor e focar as imagens. E pensar em como processar as chapas. Falo disso tudo em breve.

Os alemães devem ter uma solução mais elegante

 

Mas o fato é que na hora de juntar essa Technika III a partir de uma caixa de sucata, ficaram faltando as dobradiças da tampa. Elas são incorporadas à tampa em si, mas haviam sido removidas com uma lima provavelmente.

Essa dobradiça de R$1,20 serviu muito bem no espaço existente, com medo de que ela não aguente o dia-a-dia da Technika, usei Super Bonder para os parafusos ficarem bem firmes e Araldite no espaço entre a dobradiça a base preta, para pressionar esse lado da dobradiça no lugar.

Removi todo o resto de couro e de cola dessa Technika e ela é só alumínio! Algumas peças não combinam perfeitamente já que provém de diferentes versões da câmera.