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Scitex Smart 340 • primeiros testes

Mais uma história. E enquanto eu escrevo aqui, já estou pensando em coisas que ainda não descobri, detalhes que passaram em branco nessa correria de fazer algo funcionar. O Carlos me ligou para avisar que um scanner estava abandonado, não era um scanner qualquer, seu peso fala por ele, são 100Kg de scanner. Uma peça do passado não tão distante, vinda de uma terra longínqua: Herzilia, Israel. Lá ficava instalada a fábrica da Scitex, que em 1994 começou a comercializar o Smart 340, resolução máxima de 8000 dpi, na época era grande coisa o fato do scanner fazer uma imagem em apenas uma varredura.

Nessa época, em que estações gráficas custavam um milhão de dólares, o preço módico do Smart 340 era convidativo: 45 mil dólares (outro dia no Mercado Livre apareceu um Smart 700X por 200 reais). A Scitex faliu, não há mais peças de reposição e manutenção especializada (uma pesquisa rápida no Google revela que lâmpadas para esse scanner não existem mais, um modelo diferente, único, sem estoque). O software do scanner nunca foi atualizado para o OSX do Mac, ficou preso ao OS9.

Dado o peso do equipamento, o mais seguro foi colocar ele no chão (Nando, obrigado!) e começar ali o trabalho de investigação. Os primeiros dados que o Carlos ofereceu é que as fotos andavam fora de foco e que o software do scanner mostrava vários alertas e não ligava corretamente.

Ligado a ele coloquei um PowerMac G3 rodando o OS9.1, um monitor e etc. O Marcio, que acabou ficando com o computador do Carlos, fez a gentileza de enviar os arquivos que estavam contidos no HD desse computador, para que eu pudesse instalar o software no meu computador.

No início da instalação é lançado um programa que faz o diagnóstico do equipamento, ele testa várias áreas do scanner por etapas.

Quando chegou na parte mecânica apareceu a palavra Failed. E logo o teste se completou.

Na lista dos resultados do diagnóstico apareceu: focus axis – not ok. Resolvi refazer o mesmo teste, mas com o scanner aberto. Removi as tampas e acabamento dele e enganei o detector de tampa aberta do scanner.

O resultado foi o mesmo, mas pude observar muitas coisas acontecendo. De onde vinham os sons todos que o scanner faz, essas coisas. Fui almoçar e esvaziar a mente, pensar nas possibilidades. Através do software obtive diversas informações sobre o que estava errado. Ao tentar ligar o software que faz o scan, a mensagem era: Focus Motor Timeout, ou seja, a placa-mãe ligou o motor, mas ele não respondeu focando a lente. Através de outra interface do programa de diagnóstico vi uma outra mensagem: Focus or Motion Board unresponsive, o software suspeitava que a placa encarregada de mover lentes e etc estivesse queimada (se fosse isso, não teria jeito, então nem adianta pensar a respeito).

Na volta do almoço peguei uma lanterna e comecei a olhar dentro do scanner, para tentar entender onde estava o mecanismo de foco. Podia parecer simples, mas não era, esse scanner é dotado de 7 lentes ao todo, e eu não sabia quais eram fixas e quais se moviam para focar. Procurei, desmontei mais um pouco, fucei aqui e ali. Ainda meio cético, constatei que apenas uma das lentes realmente tinha um motor que a fazia focar, as outras todas elas fixas, calibradas na fábrica.

Estranhamente simples. Coloquei a mão sobre esse motor e pedi novamente o teste para o software de diagnóstico. Esse motor vibrou mas não a lente presa a ele se mover. Nos meus dedos ficou um pó amarelo. De todas as peças desse scanner, esse foi o único lugar onde alguém colocou uma graxa vagabunda. Graxa de má qualidade seca e enpedra. Limpei o que eu pude, coloquei outra graxa nesse eixo que atravessa o motor e pedi o diagnóstico novamente. Quando motor começou a vibrar, forcei o eixo para o lados para soltar a graxa lá dentro e a lente começou a mexer frenéticamente.

Coloquei um negativo 4×5″ dentro do scanner e pedi um scan. Selecionei uma área de 1x1mm aproximadamente dentro da imagem (atrás do taxi da direita há uma pessoa de pé, atrás dele passa um ônibus pela rua de trás, atrás dele há uma placa de trânsito). Pedi um scan a 8000 dpi, só para ver.

E depois a imagem final do scan.

ISO Alto

Laforet disse tudo “o 6400 é o novo 1600, talvez até o novo 800”, com a tranquilidade de quem diz que o cinza é o novo branco.

A nova câmara Canon 1D Mark IV de 16MP, como a Nikon D3s de 12MP, ambas ainda em pré-produção vão levar o ISO até a marca dos 102.400.

Laforet colocou online um filme produzido em ISO 6400, para testar a Mark IV, continuação do vídeo que ele produziu com a 5D MkII logo que ela apareceu. Gralbraith também fala da câmara. E o Digital Photography Review já deu a notícia.

O site da Canon tem algumas imagens, samples, mas nada feito em 102.400, que era justamente o que eu gostaria de ver. No mais, imagino que de agora em diante nem adianta se esconder no escuro.

Custo por foto, antes e agora

A história de hoje começou em 1993. Em janeiro desse ano meu pai me deu uma Nikon FM2. Tenho essa câmara até hoje. Ela funciona até hoje. Em 1999 ela teve um pequeno problema com a alavanca de rebobinar o filme, consegui a peça e troquei eu mesmo, comprei pelo correio de uma loja em Chicago. O preço do conserto na autorizada aqui no Brasil era proibitivo. Cheguei a comprar um livro xerocado, manual de reparos da fábrica para a FM2, mas ele nunca mais foi necessário. Aqui, a única página que eu cheguei a usar até hoje:

fm2manual

A peça 561 quebrava bastante e foi bem fácil de conseguir. Quebrava porque a câmara batia em algo, veja bem.

O tempo passou, comprei uma segunda FM2, depois uma Nikon 8008s, que também me acompanhou durante muito anos. Juntas as três câmaras fizeram todas minhas imagens nos anos 90. Sem sustos.

A FM2 custava 479 dólares e a 8008s custava 589 dólares, lá na B&H (vou usar o catálogo da B&H como fonte de valores nesse post, para evitar diferenças em função de impostos, taxas de revenda, margem de importador). Como a FM2 ainda está comigo depois de 16 anos, ela custou 30 dólares/ano (480 dividido por 16).

Mas esse paradigma acabou, se foi, não volta mais, já era, nunca mais.

Em 2003 comprei minha primeira digital séria, uma Canon 10D, foi difícil trocar para Canon, mas na época a Nikon D100 deixava muito a desejar, na qualidade da imagem, no lento processamento dos RAWs. Junto com a 10D adquiri um cartão de 256Mb.

cfcards

E foram muito cartões, antes e depois de 2003. Cartões CompactFlash sempre. Depois vieram os de 4Gb e 8Gb… Que custaram mais barato que esse de 2Mb ai em cima.

A 10D custava 1500 dólares na B&H, ainda funciona, são 6 anos comigo, por enquanto 250 dólares/ano (1500 dividido por 6). A 10D precisou de duas limpezas de CCD durante esses 6 anos, limpezas que eu mesmo fiz.

Quando a 10D fez 5 anos, alarmado pelas notícias ao meu redor de que essas câmaras não durariam mais que algumas mil fotos, depois que o grip da 10D empacotou e cansado da demora que é esvaziar o buffer depois de travar após 9 fotos em RAW, adquiri uma Canon 40D.

A 40D custava 1000 dólares na B&H, está há 1 ano comigo, por enquanto 1000 dólares/ano (1000 dividido por 1). E está hospedada na autorizada aqui em São Paulo, o Namba. O obturador morreu, segue um detalhe do orçamento que recebi deles:

Picture 1

O orçamento do Namba acusa o número de imagens feitas com a câmara: 49493. Fui atrás da nota fiscal, a câmara tem 1 ano, 1 mês e 10 dias comigo. ou seja, não há mais garantia. No DPreview a durabilidade estimada do obturador da 40D é de 100.000:

Picture 2

Mal chegou à metade. Coisas da vida. Ou melhor, eis um novo paradigma. Serve para reencontrar bons amigos nas visitas cada vez mais frequentes à autorizada. Quem tem uma lente Canon com IS também vai sofrer com isso o conserto é mais caro que o do meu obturador. Obsolescência planejada na Wikipedia, vale a pena conferir o subtítulo Fair Trade. Um outro texto a respeito. Idéias.

Isso tudo me colocou em busca de uma substituta para minha 40D, caso o conserto dure pouco, preciso ter um backup adequado. Comecei pelo próprio DPreview lendo sobre a 50D. Fui atrás de mais informações sobre o sRAW1 da 50D, sobre o controle de ruído nele, etc e tal.

Achei esse post de Roland Lim, muito interessante. Mas não foi suficiente. Acabei indo parar num site muito curioso chamado Canon Rumors. Lá já há muita falação sobre o que será a “60D”. De tudo que li, captei uma coisa bem simples, todos aquele cartões Compact Flash nos quais investi tanto dinheiro serão completamente inúteis, tudo aponta para os cartões SD.

Dentro desse site encontrei um página onde é mantida uma tabela de preços e estimativas de substituição de modelos, vale a pena consultar antes de comprar.

Retomando a idéia dos valores anuais e etc, pensei em uma comparação, escolhi uma câmara popular entre os profissionais, a 5D Mark II, e um tipo de trabalho também popular, a fotografia de casamento, pesquisando sites fica claro que uma 5D Mark II pode ser adquirida por um fotógrafo norte-americano em uma loja local com metade do que ele ganha fotografando um casamento grande. Aqui no Brasil a situação é outra, um bom fotógrafo vai precisar juntar todo o faturamento obtido com 2 a 4 casamentos grandes para ir ao centro da cidade deixar 10mil reais e adquirir a mesma câmara.

Bom, o digital não barateou em nada a fotografia. Os impostos de importação não ajudam em nada a nossa situação, a desunião dos profissionais não ajuda. E a concorrência por preço os coloca em uma desvantagem terrível em relação à aquisição de equipamento fotográfico.

Minha intenção não é entrar tanto no mérito da fotografia profissional, mas de fato, essas são as pessoas que mais sofrem com esse novo paradigma. E ao mesmo tempo essa é a classe que poderia lutar contra essa situação de importação e etc, facilitando a aquisição de equipamentos aqui em Terra Brasilis.

Já a obsolescência planejada é uma outra história, de terror. Bens mais duráveis ficarão mais tempo fora da lata do lixo, de diga-se de passagem não é um buraco sem fundo. Forçar esse ciclo de consumo, anual, é muito barra pesada por parte da indústria (Flusser tinha razão). Trocar de equipamento em busca de vantagens (qualidade, resolução, etc) é uma coisa, ser forçado porque o equipamento é mal feito, ou feito para quebrar, é outra. E assim, se eu for forçado a adquirir uma outra câmara, provavelmente serei forçado a adquirir outro computador, e por ai vai…

Quando o aparelho simplesmente não quer

Blá blá blá.

O mico de comprar uma 20D, 30D, 40D ou 50D e não conseguir tirar fotos:

No google, no flickr e no Youtube.

É a vida…

O homem de uma câmara só

O depoimento de Tonho Ceará foi maravilhoso. Com certeza havia quem esperasse dele um discurso de quem ganhou o Prêmio Porto Seguro Brasil 2008, mas o que saiu teve tom de desabafo.

Tonho passou a vida inteira fazendo fotografias do mesmo tipo com a mesma câmara. Isso por si só é algo que eu acho difícil de conceber. Retratos, todo dia, todo ano, no mesmo lugar, mas não foi isso que motivou o desabafo.

Veja bem, ninguém pode achar que a vida dele tenha sido monótona, longe disso, não acho que exista sequer um fotógrafo no Brasil que leve uma vida sem brilho ou sem contrastes. Os desafios da prática diária de Tonho parecem ter sido suficientes para manter a agitação constante.

O desabafo foi motivado por essa luta incessante que já dura uma vida. Tomara que o prêmio sirva de alívio, restauro e descanso, além de recompensa. Quem sabe suas histórias não viram um livro ou um vídeo.

Outro fato inconcebível para os que começam hoje é que a câmara de Tonho ainda o acompanha, a primeira, a única.

Um pouco de história recontada

Na falta de inspiração, um copy-paste, ou dois.

A fotografia é uma linguagem que foi explorada desde a sua criação há mais de 160 anos e para a qual foi desenvolvido um extenso corpo de conhecimento técnico. A indústria participou dessa exploração criando tecnologia ligada à produção de ferramentas para a execução de fotografias. Não que estas inovadoras ferramentas fossem absolutamente necessárias para que as imagens continuassem sendo feitas, mas foram muito úteis, de fato.

Ao longo dos anos essa pesquisa foi sendo direcionada à solução dos problemas mais comuns na realização de fotografias visando a valorização comercial da ferramenta e a padronização da qualidade técnica das imagens.

Na verdade, quando o próprio Niepce decidiu buscar uma maneira de gerar uma nova matriz a partir de uma gravura impressa e orfã, ele também queria valorizar a sua ferramenta comercialmente.

Na época da invenção do daguerreótipo a exposição à luz era exageradamente longa e a cada mês ou mesmo semana avanços nas pesquisas tornavam possíveis exposições cada vez mais curtas. Nos anúncios dos comerciantes da fotografia esse tempo de exposição (cada vez mais curto) figurava sempre em destaque. Assim se media o avanço da técnica, assim se dava sua valorização comercial. Hoje é o megapixel que mede o avanço tecnológico da fotografia e que faz os preços subirem.

Mais um copy and paste:

“Na época da invenção do daguerreótipo a exposição à luz era exageradamente longa e a cada mês ou mesmo semana avanços nas pesquisas tornavam possíveis exposições cada vez mais curtas. Nos anúncios dos comerciantes da fotografia esse tempo de exposição (cada vez mais curto) figurava sempre em destaque. Assim se media o avanço da técnica. Hoje é o megapixel que mede o avanço tecnológico da fotografia. E de lá para cá a história se repetiu exaustivamente. Não é difícil se imaginar a queda de preços que cavaletes e pincéis sofreram na década de 1840.”