No início de março escrevi aqui sobre algumas fotos que ampliei, uma pequena série que entitulei Outono de 1998. Desde o começo do ano tenho me debruçado sobre meu arquivo, tentando dar conta de ampliar várias histórias que ficaram esquecidas. Aos poucos tenho conseguido aumentar minhas horas de laboratório e seguir rumo ao passado.
Essa semana, em uma conversa com a Maitê sobre isso, constatei que o tempo do aprendizado do laboratório é bem diferente do tempo de aprender a fotografar. Pequenos ensaios fotografados se juntam em caixas aguardando a capacidade do fotógrafo de traduzi-los em cópias.
O fator agravante é que se tratam de grupos de imagens, que ao serem ampliadas, exigirão uma proximidade visual que as façam parecer um grupo. Isso é um desafio enorme, porque ali mesmo na banheira de lavagem, aquela simples inspeção das cópias lado a lado revela a criação ou não de um grupo de imagens.
Vários livros nos ensinam técnicas mais avançadas de laboratório: Ansel Adams: A Cópia (tá ai um cara cuja paciência e dedicação ao fotografar era bem próxima da que ele tinha dentro do laboratório); Michael Langford: Manual de Laboratório (editado pela Melhoramentos em 1981, um clássico dos sebos brasileiros); Eddie Ephraums: Creative Elements (um livro sobre fotografia de paisagem com uma parte enorme dedicada ao processamento de filmes p&b 35mm para qualidade); Larry Bartlett: B&W Photographic Printing Workshop (o autor tem outros livros sobre o assunto e foi o responsável por um projeto de livro do fabricante Ilford também). Mas esses livros tratam as decisões inerentes às cópias individuais.
As escolhas que fazemos no laboratório: filtro de contraste, tempo de revelação, revelador X ou Y, queimar aqui ou ali, passam a ser escolhas que respondem ao grupo de imagens e não mais à aquela cópia única, essas escolhas precisam unificar o grupo, criar uma visualidade que possa ser reconhecida. Se o fotógrafo abre um grupo de fotos sobre uma mesa, aponta para elas e diz: Isso é um ensaio blá blá blá, o trabalho de laboratório precisa corroborar isso. Isso pode afetar até a edição do trabalho, caso uma imagem não seja “traduzida” para o papel adequadamente. Um cópia, por exemplo, pode funcionar bem quando clara, mas precisar ficar mais escura para se encaixar num grupo de imagens num determinado ponto da edição, e por ai vai.
Enfim, é com isso que ando discutindo comigo mesmo dentro do quarto escuro esses dias. Não é à toa que há um enorme atrativo na edição digital de imagens, onde a previsibilidade dos resultados é instantânea e se pode olhar grupos de imagens e realizar qualquer mudança para que o grupo funcione melhor.
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